terça-feira, 8 de julho de 2008

Batman entre a anarquia e a moral e os bons costumes

Entre a anarquia completa e a moral e os bons costumes há uma infinidade de possibilidades. Mas vivemos em um período de extremos e a polarização parece ser o caminho natural para resolver questões fundamentais da vida em sociedade.

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    Por mais que os fãs de histórias em quadrinhos e afins se esgoelem para destacar as qualidades "viscerais" de "Batman - O Cavaleiro das Trevas", o filme vai muito além de elogios rasgados e vazios, de frases de efeitos e de interpretações intensas como a de Heath Ledger (morto em janeiro) no papel de um perturbado Coringa ou de Aaron Eckhart como o atormentado Harvey Dent - sem contar Chris Bale como o Homem-Morcego. Fala de como nos alimentamos de uma correção política inexistente, de falsos heróis e, especialmente, de heroísmos desnecessários nos dias de hoje.

    Divulgação

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    Chris Bale é Bruce Wayne, o alter ego de Batman em "O Cavaleiro das Trevas"



    Christopher Nolan está entre os cineastas de Hollywood que ao menos se esforçam para dar um sentido ao "cinemão mainstream". Já demonstrava sinais dessa consciência em "Batman Begins", o primeiro filme da nova fase da franquia dedicada ao personagem de Bob Kane. Agora, simplesmente confirmou o que se suspeitava: pode realmente haver vida inteligente por trás de adaptações de heróis de histórias em quadrinhos para o cinema. E Nolan certamente é uma delas.

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    Heath Legder como Coringa entrega uma interpretação impressionante



    Ao transportar para a tela grande histórias seminais na "cronologia" de Batman, o cineasta se despiu de todas as obrigações e inseriu o Homem-Morcego num contexto contemporâneo. A demolição da mansão Wayne em "Batman Begins" teve um caráter simbólico para dar sentido à "criação" do Homem-Morcego e fazer referência à queda das Torres Gêmeas. Aqui, o mal primitivo representado pela figura abjeta do Coringa e a ambigüidade representada pelo (literalmente) dividido Harvey Duas-Caras levam Batman e o comissário Gordon - os representantes do lado bom - a uma montanha-russa de emoções.

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    Maggie Gyllenhall e Aaron Eckhart são Rachel e Harvey Dent



    Com a ajuda de um elenco afiado e de primeira, Nolan transforma essa pantomima e as falas de efeito - sempre presentes nos filmes de super-heróis - em um espetáculo visual. Não apenas pela ambientação, a caracterização dos personagens ou os efeitos especiais, mas por saber manejar a câmera de forma a dar sentido dramático a cada um dos personagens e de seu peso na história. Um exemplo: uma seqüência em que Batman segura o Coringa de cabeça para baixo em uma espécie de andaime e ambos discutem. É algo muito sofisticado e nada gratuito.

    Se não tem sentido festejar cegamente as qualidades de um filme simplesmente porque seu personagem é herói popular dos quadrinhos, também não tem sentido descartá-lo completamente justamente por gozar dessa popularidade toda, especialmente entre os mais jovens. Que é um dos exercícios preferidos da "intelligentsia": julgar sem ver ou ao menos tentar entender o que significa esse movimento todo.
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