segunda-feira, 14 de julho de 2008

Heroísmo é aposta de "Chamas da Vida"

O Rio da Record é menos bonito e glamouroso que o da Globo, porém é mais agudo, áspero

AO CONTRÁRIO da Globo, a Record não tem lá muita pretensão de "interpretar" o Brasil em suas novelas, o que deve ser uma das razões pelas quais suas produções dramatúrgicas vêm ganhando fatias de público e granjeando simpatia entre os noveleiros.
Por isso que, mesmo em patamar de produção ligeiramente inferior, as novelas da Record têm algo de frescor inequívoco. "Chamas da Vida", que estreou semana passada, é uma novela convencionalíssima, mas, ao mesmo tempo, exibe essa despretensão de forma triunfante.
Suburbanos de Nova Iguaçu e novos ricos que moram na Urca compõem o fundo social da novela. O bombeiro-herói Pedro conhece a videomaker Carolina e, zás, eles se apaixonam quando o herói salva a mocinha de um incêndio criminoso em uma fábrica -de sorvetes, numa ironia talvez involuntária. A fábrica que pega fogo é objeto de disputa entre duas famílias de emergentes, uma boa e bem-humorada, a outra pretensiosa e de más intenções.
Há muitos jovens, entre delinqüentes que disputam rachas e bonzinhos que procuram seu caminho profissional e amoroso com correção. Aliás, de alguma maneira, a insistência em núcleos jovens numerosos e bastante variados parece marcar outra diferença entre Globo e Record. Enquanto a primeira tem de dar lugar a um cast de estrelas em sua maioria acima dos 40, a segunda tornou-se abrigo de vários jovens atores e atrizes.
É simples e, por isso mesmo, pode vir a ser eficaz. A Record já se provou competente para levar tramas mais recheadas de ação e com sabor de aventura, e parece ser essa a aposta de "Chamas da Vida".
Além do heroísmo dos bombeiros -categoria quase que acima de qualquer suspeita, menos marcada pela truculência, como os policiais, mas suficientemente disciplinada para evocar a coragem física, como os militares-, há, claro, o amor, físico e romântico, o que é bem favorecido pela juventude do elenco.
Agora, há um dado que não parece ser exatamente proposital, mas nem por isso deixa de ser relevante. O Rio da Record é sempre menos bonito e glamouroso -do que o da Globo, bem entendido-, mas interessantemente mais agudo, áspero. Não se trata de mais ou menos realismo, mas, talvez, de uma vivência outra, menos conciliatória e mitificadora; mais moderna, em suma.
Em "Chamas da Vida" aparece essa maneira de ver a cidade, ao lado de uma certa brejeirice suburbana que pode levar facilmente à cafonice. Se conseguir escapar, talvez aí se comece a delinear um diferencial de peso.

Nenhum comentário: