domingo, 6 de julho de 2008

CAMPANHA PARA LEDGER

No novo "Batman", último filme que completou, Heath Ledger cria um Coringa definitivo: punk, sinistro, sadomasoquista e completamente fora de controle




MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES



Em entrevista à Folha em dezembro passado, Jack Nicholson resumiu o que achava de Heath Ledger assumir, em "Batman - O Cavaleiro das Trevas", um de seus papéis mais célebres, o do Coringa: "Não temo ninguém que faça um personagem depois de mim".
Bom, Jack, más notícias para você; ótimas para o público: é bem possível que, com sua atuação, Ledger passe à história como o Coringa definitivo (e um dos maiores vilões do cinema), deixando em segundo plano o palhaço brincalhão do filme de Tim Burton.
No segundo longa do homem-morcego dirigido por Christopher Nolan (após "Batman Begins", 2005), que estréia no próximo dia 18, o Coringa de Ledger é o primeiro a aparecer (numa cena de assalto a banco que remete aos clássicos do gênero) e, daí por diante, concentra as atenções.
"Ele é o arquivilão definitivo, é tão icônico quanto Batman, e Heath criou algo completamente original, espantoso, cativante. Vai nocautear o público", disse Nolan numa mesa com diversos jornalistas, dentre eles o da Folha. Mais jovem, com visual mais moderno (de influência punk) e completamente psicótico, incontrolável e sadomasoquista, o vilão é quem dá o tom do filme: um tom sombrio de fazer jus às "trevas" do título, no episódio mais sinistro de todos os sete filmes do morcego.
O público ainda deve ter em mente que estará diante do último filme que Ledger completou antes de morrer de overdose acidental de medicamentos, em 22 de janeiro, aos 28 anos (sob a direção de Terry Gilliam, ele começou a filmar "The Imaginarium of Doctor Parnassus", mas não o completou).
A comoção com a morte do jovem ator e a empolgação com sua atuação em "O Cavaleiro das Trevas" fortaleceram (entre a imprensa norte-americana e a equipe do filme) a campanha por sua premiação com um Oscar póstumo.

Sem medo
Na equipe do longa, todos pareciam ter combinado o adjetivo para definir Ledger: "destemido". Segundo o diretor, além do "talento extraordinário" do australiano (indicado ao Oscar por "O Segredo de Brokeback Mountain", 2005), o destemor com que ele imergia em seus papéis foi o que o levou a convidá-lo para fazer o Coringa. "Ele tinha uma ousadia criativa que era essencial para assumir um papel tão simbólico, que requer muita confiança."
É claro que a composição do personagem já começa no roteiro, assinado por Nolan e por seu irmão Jonathan, repetindo a parceria de "Amnésia" (2000) e "O Grande Truque" (2006).
O Coringa criado por eles é uma mistura do protagonista de "Laranja Mecânica" com os pioneiros do movimento punk, e tem traços do Batman retratado nas HQs "Asilo Arkham" e "A Piada Mortal".
"A noção punk de anarquia, de que a juventude poderia destruir a velha sociedade, era o que Heath e eu queríamos que o Coringa representasse no filme, alguém absolutamente dedicado ao caos, que é uma das coisas mais assustadoras que podem existir", disse o diretor.

Reviravoltas
"Batman - O Cavaleiro das Trevas" reúne tantas surpresas em suas 2h30 de duração que é melhor não contar a trama em detalhes, para preservar o prazer do espectador.
Em linhas gerais, o filme mostra a escalada do Coringa ao topo da criminalidade de Gotham, ao mesmo tempo que o promotor Harvey Dent ascende ao posto de herói da cidade, sendo inclusive visto por Batman como seu substituto, um herói sem máscara. A saga de Dent tem bastante destaque no filme e envolve ainda Rachel Dawes, cujo amor ele disputa com Bruce Wayne.
O elenco de "Batman Begins" está quase todo de volta -as cartas estão ao lado. Os novos membros são Aaron Eckhart como Dent e Maggie Gyllenhaal como Rachel. Nolan vai costurando a trama no formato de triângulos: amoroso (Bruce Wayne, Rachel Dawes, Harvey Dent), justiceiro (Batman, Dent, Gordon), de aberrações (Coringa, Duas Caras, Batman) e de confidentes (Alfred, Wayne, Lucius Fox). Mas o embate central, é claro, se dá entre os dois personalidades complementares, Batman e o Coringa.
Como diz o louco, numa de suas várias boas tiradas, o filme mostra "o que acontece quando uma força incontrolável encontra um objeto irremovível".

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