quinta-feira, 3 de julho de 2008

Como se defender da inflação

Juros? Ações? Esqueça. O melhor negócio do primeiro semestre do ano foi investir na inflação. Com variações de dois dígitos no acumulado dos últimos 12 meses, os índices estão mostrando que o velho dragão ressurgiu com uma potência que não se via há anos. As causas são bem conhecidas: o aumento dos preços de itens essenciais para a economia mundial, como alimentos e petróleo, e - no caso brasileiro - a resistência do governo em cortar gastos e enxugar suas contas.

Isso fez com que todos, absolutamente todos os investimentos perdessem da inflação no acumulado do semestre. Sim, isso mesmo: mesmo que você tenha sacrificado parte de seu consumo e investido uma fatia do seu suado dinheirinho, você está mais pobre hoje do que estava no dia 31 de dezembro do ano passado. Está vendo porque a inflação é uma praga que deve ser combatida com todas as nossas forças?

O que fazer? Sacar tudo e cair numa farra de consumo? Calma, não precisa se desesperar. Vamos analisar o que aconteceu e, mais importante, o que deverá ocorrer nos próximos meses. Como sempre, vamos por partes:

1) o índice que mais subiu foi o IGP-M

O IGP-M, calculado pela Fundação Getulio Vargas, é um excelente índice de inflação e tem algumas peculiaridades. Em primeiro lugar, ele é um índice "nervoso", ou seja, ele reflete as altas e as baixas de preços mais rapidamente que outros índices, como o IPCA, por exemplo. Em segundo lugar, a inflação medida pelo IGP-M aplica-se a itens importantes da cesta básica, como aluguéis, pedágio e tarifas telefônicas, mas não a todos os preços da economia.

2) O IGP-M não é o índice principal, o IPCA é mais importante

Ao fazer suas contas para saber se tem de apertar ou não o parafuso dos juros para domar a inflação, o Banco Central (BC) usa o IPCA, calculado pelo IBGE, não o IGP-M. O IPCA de junho ainda não foi divulgado, (só deve sair daqui a uns 10 ou 12 dias), mas as estimativas do mercado financeiro é que ele indique uma inflação de 3,7% no semestre e cerca de 6,3% no ano. É menos que o IGP-M, mas está batendo no teto da meta prevista para o ano, que é de 6,5%.

3) a renda fixa perdeu do IGP-M, mas ganhou do IPCA

No primeiro semestre, o IGP-M cravou uma alta de 6,82%, mais de um ponto percentual acima da variação acumulada dos fundos de renda fixa e quase 1,5 ponto percentual acima dos fundos DI. É um péssimo resultado, mas lembre-se que o IGP-M não é o principal índice da economia. Os juros ainda superaram com uma certa folga a inflação do varejo, que é medida pelo IPCA. A rentabilidade dos melhores fundos de renda fixa foi quase o dobro do IPCA (não vou falar dos fundos de ações; o Dr. Manoel, meu cardiologista, disse que eu devo evitar emoções fortes), e deve continuar assim.

E agora? Onde investir nos seis meses que restam de 2008?


O cenário de investimentos para o segundo semestre do ano está assim:

Renda fixa: os juros devem fechar o ano entre 14% e 14,5%, um aumento de quase dois pontos percentuais em relação aos níveis atuais. Essa alta já está expressa no mercado futuro de juros. Os contratos futuros com vencimento no fim de 2008 indicam taxas superiores a 14% e os contratos que vencem em dezembro de 2009 indicam juros de quase 15% ao ano.

Para ganhar esse percentual, o investidor pode aplicar em um Certificado de Depósito Bancário (CDB) prefixado que garanta uma boa taxa por pelo menos 18 meses (ficando menos tempo o imposto a pagar é alto) ou aplique em um bom fundo DI ou de renda fixa, que cobre uma taxa de administração de, no máximo 1% ao ano. É uma aplicação que será bem melhor do que a inflação medida pelo IPCA, vai superar, embora com menos folga, a inflação medida pelo IGP-M e não vai expor o investidor a riscos.

Ações: o mercado financeiro está refazendo suas contas e está menos otimista para o fim do ano. Não devido a problemas na economia brasileira, mas devido ao mau humor dos investidores americanos. os gringos estão comprando menos ações em todo o mundo e seus bancos estão tendo de sanear bilhões de dólares em empréstimos de má qualidade, por isso a perspectiva para a bolsa não é tão boa.

Quem quiser investir em bolsa deve ter um horizonte de longo prazo em mente. Ou seja, investir agora e esperar pelo menos dois anos para colher os frutos, que é quando os mercados internacionais deverão ter purgado seus excessos e voltarem a comprar com gosto. Até lá, a bolsa vai continuar sendo um ambiente para profissionais, com ações mais baratas e ainda sujeita a solavancos.

Dólar: caiu 10% no primeiro semestre. Está barato, mas nada indica que vai ficar caro no curto prazo. Os prognósticos do mercado financeiro indicam que o dólar poderá subir mais 3% ou 4% até o fim do semestre, com um risco elevado. Ou seja, é melhor ficar na renda fixa.

Poupança: vai perder dos fundos de renda fixa. Só é uma alternativa para quem tem menos de 1 000 reais para aplicar, ou para quem vai precisar do dinheiro em seis meses e não quer deixar capital parado no banco.

Inflação: sim, dá para investir na inflação, também. O meio mais indicado é comprar títulos públicos corrigidos pelo IPCA negociados no Tesouro Direto. Dá um pouco de trabalho, exige conhecimento de internet e requer que o investidor seja cadastrado em uma corretora. Na ponta do lápis, esses títulos vão render 13% a 14% este ano, sem risco.

Fundos de inflação: foram uma febre há cinco ou seis anos, e agora praticamente desapareceram. Não são recomendados por um motivo técnico: há poucos papéis corrigidos pelo IGP-M em circulação no mercado, e eles estão caros. Ou seja, estão sendo negociados com prêmios elevados sobre seu valor de face, o que reduz a possibilidade de ganhos no futuro.

Nenhum comentário: