quinta-feira, 12 de junho de 2008

"Fim dos Tempos", novo de M. Night Shyamalan, é "ame-o ou deixe-o"

Quando se trata de M. Night Shyamalan, o diretor indiano radicado nos Estados Unidos cuja carreira ganhou impulso com o sucesso de "O Sexto Sentido" (1999), não há meios termos. Pode-se amá-lo ou odiá-lo, na mesma intensidade, com todas as forças. É justo, no entanto, dizer que estamos diante de um autor de verdade, como há muito Hollywood não vê circular pelos seus estúdios. E um autor com direito a disputas públicas para ter controle total sobre seus filmes. Assim foi com o fracassado "A Dama na Água" (2007) e, em menor escala, com "Fim dos Tempos", que estréia mundialmente na sexta (13).

Com exceção dos trailers e de material promocional divulgados pela Fox, "Fim dos Tempos" não teve muitas informações sobre sinopse divulgadas e as exibições para jornalistas foram restritas - UOL Cinema assistiu ao filme na quarta (11) apenas, o que é incomum para produções dessa grandeza. Tudo isso remete à disputa de Shyamalan com os executivos da Disney, sua saída para a Warner, o fracasso de "A Dama na Água" e uma série de outros pequenos incidentes. O fato é que, mais uma vez, o cineasta será prejudicado pelo seu preciosismo e soberba, embora suas intenções sejam as mais nobres como se verá.

"Fim dos Tempos" tem o sabor de um protesto ecológico, um alerta no formato de filme, um "gênero" adequado aos tempos modernos. Logo nas primeiras seqüências, Elliot Moore (Mark Wahlberg), um professor de ciências, provoca seus alunos com a suposta afirmação de Einstein de que a humanidade não duraria quatro anos se as abelhas desaparecessem da face da Terra. Alguns alunos sugerem razões para o possível desaparecimento dos insetos, inclusive o famigerado "aquecimento global". Mas só um deles dá a resposta cientificamente mais adequada: "Não é possível saber exatamente o por quê".

Moore, assim como todos os habitantes do nordeste dos Estados Unidos, onde fica a Filadélfia, será afetado por um desastre de proporções catastróficas. Uma substância tóxica que surge não se sabe de onde impede que as defesas naturais do ser humano atuem e as pessoas começam a cometer suicídios em massa. Com a mulher Alma (Zooey Deschannel, o elo mais fraco do filme) e Jess (a menina Ashlyn Sanchez), filha de um amigo, ele tenta fugir desse inimigo invisível, onipresente e fatal. O homem comum protege a célula que mantém a sociedade em pé - a família.

Shyamalan retoma novamente temas e questões que percorrem quase todos os seus filmes desde "Praying With Anger" (1992), sobre um estudante indiano de intercâmbio nos Estados Unidos que volta para sua terra natal e se sente um estranho. Entre as mais fortes estão a oposição entre a razão e o espírito, entre o certo e o incerto, entre o planejado e o aleatório. No caso de "Fim dos Tempos", a paranóia aponta para o inimigo da vez, os "terroristas". Faz sentido, afinal, estamos nos Estados Unidos, centro oficial do medo e da paranóia.

Quando finalmente descobre-se o verdadeiro inimigo, nada menos do que a natureza cobrando seu preço, o que não revela nenhum detalhe sobre a trama do filme, fica claro o objetivo de Shyamalan: a sociedade moderna não está acabando apenas com as tradições, está pondo fim também ao meio onde vivemos e, conseqüentemente, à natureza humana. É um preço alto demais a pagar pela modernização a qualquer custo, pela institucionalização do individualismo como princípio e pela quebra do tabu da violência como último recurso a ser utilizado para resolver as coisas

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