quinta-feira, 1 de maio de 2008

Curta baiano "10 Centavos" participa de mostra paralela em Cannes

Nunca a Croisette, templo do cinema mundial, foi tão brasileira. Na linha de frente da participação brazuca no celebrado festival francês de Cannes, que acontece entre os dias 14 e 25 de maio próximos, está "Blindness" (que deve ser traduzido como "Cegueira"). A aguardada adaptação do livro Ensaio Sobre a Cegueira, do autor português José Saramago, tem na direção o brasileiro Fernando Meirelles ("Cidade de Deus" e "Jardineiro Fiel") e terá simplesmente a honra de ser o filme da abertura do evento, em busca do prêmio máximo, a Palma de Ouro.

Além de "Cegueira", outro filme com brasileiros que entra na mostra competitiva é "Linha de Passe", dirigido pela dupla Walter Salles e Daniela Thomas, parceiros de longa data desde o filme "Terra Estrangeira" (1996), até o curta para a produção coletiva "Paris, Eu Te Amo" (2006).

Mostra Paralela – A situação para o Brasil está tão boa nesta edição do festival que até o cinema baiano conseguiu uma vaga, que conta com maciça participação nacional de curtas. O principal responsável por este feito é o jovem cineasta César Fernando de Oliveira, 28, que incluiu seu primeiro curta profissional, "10 Centavos", entre as 11 produções brasileiras convidadas para participar da mostra paralela Short Film Corner, que pode ser descrita como um dos mais importantes eventos do mercado de curtas do cinema mundial. O filme narra o dia de trabalho de um garoto como guardador de carros em Salvador.

César recebeu o convite para participar há mais ou menos um mês, mas só começou a divulgar agora o fato, pois aguardava a resposta da Diretoria de Artes Visuais e Multimeios (Dimas) para o patrocínio na viagem. O apoio saiu, consistindo de duas passagens, uma para César e outra para seu produtor Amadeu Alban, além de R$ 4 mil para alimentação e estadia. Em contrapartida pelo apoio, a dupla deve apresentar no retorno a Salvador uma palestra para contar a experiência no festival.

"Esta mostra serve como uma espécie de mercado internacional de curtas. Existem até algumas competições internas, mas não é o foco principal. Muitos canais de tv e produtoras estão lá para assistirem e comprarem sua exibição", comenta César, que ainda não sabe o dia exato da exibição de "10 Centavos" em Cannes e diz que o contato inicial, ao chegar à cidade francesa, é indispensável para convencer o máximo de interessados para a sessão em que o curta for incluído.

A expectativa de César é que a participação de 10 Centavos em Cannes alavanque os convites para integrar outros festivais nacionais e internacionais. Mas, mesmo antes de Cannes, o curta já tinha participado de festivais internacionais, com destaque para o prêmio Unicef recebido no Festival Internacional de Cine Documental e Curtas de Bilbao (Espanha).

Outras participações em festivais internacionais já estão garantidas, como na 36º Festival Internacional de Cinema de Algarve (Portugal), em maio, e no 10º Festival Internacional de Filmes da Juventude de Seul (Coréia do Sul), em julho.

César espera conseguir participar de alguns festivais nacionais nos quais está inscrevendo "10 Centavos". "Tentarei o Festival de Gramado, porque no ano passado não ficou pronto a tempo, o Festival Internacional de Curtas de São Paulo e o Festival do Rio. Infelizmente, não pude inscrever para a mostra competitiva em Cannes porque o filme já tinha passado em outro festival na Europa. Espero que não exista o mesmo problema por aqui", diz o diretor, que também pretende inscrever seu curta nos festivais baianos Panorama Coisa de Cinema (em agosto) e Jornada de Cinema (em setembro).

Produção local – A realização de "10 Centavos" só foi possível porque o curta foi contemplado com o Prêmio Braskem, que anualmente elege um curta para receber R$ 100 mil para sua realização. César diz que a pequena produção baiana de curtas-metragens, e conseqüente pequena participação em festivais de prestígio, está diretamente ligada à dificuldade de levantar verbas para este tipo de filme. "É muito complicado conseguir produzir sem ter algum tipo de apoio, principalmente do Estado. O Braskem pelo menos garante a produção de um curta por ano. E isso só saiu devido a uma conversa anos atrás da Associação Baiana de Cinema e Vídeo com o pessoal da Braskem. Mas ainda é muito pouco ".

César está praticamente em tempo integral dedicado à boa repercussão de 10 Centavos, mas já tem em mente seu provável próximo projeto: um curta infanto-juvenil, com roteiro de Saulo Dourado, jovem escritor que já colaborou com alguns de seus contos para o Caderno Dez! de A TARDE. “Gosto muito de trabalhar com esta turma nova. A equipe de "10 Centavos" é praticamente toda composta por muita gente jovem e de talento”, diz César, que se formou em cinema pela faculdade FTC no final de 2005.

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