quinta-feira, 15 de maio de 2008

A união homossexual é uma questão pessoal ou social?

Até onde vão os limites para amar? O que é certo ou errado entre duas pessoas apaixonadas que pretendem se unir? E nesse caso, por que a tendência é sempre pensar em duas pessoas do sexo oposto? Afinal, são questões individuais que poderiam trazer filosofias sobre a vida e o universo, mas inserir um contexto homossexual pode levar a uma discussão fervorosa e polêmica.

A sociedade estabeleceu limites e ninguém percebeu, pois fomos e ainda somos educados desta forma. Em geral, abordar assuntos como o casamento gay é o espanto para muitos e orgulho para uma minoria. Atualmente, a novela Duas Caras, da Rede Globo, tem um casal homossexual, o Bernardinho, vivido por Thiago Mendonça, e Carlão, personagem de Lugui Palhares, que pode se casar e dar um beijo no último capítulo. O autor Aguinaldo Silva sabe que enfrentará muitas críticas e em uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo declarou que o capítulo será escrito, mas não garante que vai ao ar.

Atitudes como dessa possível cena choca a grande massa, que é heterossexual, mas contrapontos acontecem. Em 2007, o site Lovefilm.com fez uma pesquisa e divulgou que o beijo entre os atores Heath Ledger e Jake Gyllenhaal, no filme O Segredo de Brokeback Mountain, foi considerado o melhor beijo de cinema de todos os tempos.

Desta forma, a homossexualidade divide opiniões até entre os próprios gays. Segundo a psicoterapeuta Maura de Albanesi, não existe diferença hormonal entre os heteros e os homossexuais, mas sim uma questão do jeito da pessoa ser. Porém, nem sempre é fácil se aceitar e ela conta "Eu recebo várias pessoas aqui falando - eu sou homossexual, não me aceito assim e quero que a senhora me ajude a virar um heterossexual. Eu simplesmente digo que isso é impossível. Eu acredito sim, que o homossexual nasça homossexual, que há um gay dentro do útero. Não é uma coisa que se vai aprender com a convivência."

O estudante de enfermagem, Milson Júnior, de 25 anos, sempre gostou só de meninos e diz que percebeu a sua homossexualidade desde muito jovem, sendo assim ele acredita que pode ser até uma questão genética "No fundo no fundo, todos sabem das suas vontades, mas é uma questão de aceitação e amadurecimento. No início tive total rejeição, ainda mais quando não há apoio de ninguém, tudo fica mais difícil", disse.

Passar pelo período de aceitação é uma das fases mais complicadas. "Ninguém se depara, de um primeiro momento com essa sensação ‘sou homossexual’ e fala – Ah! Ótimo, maravilha – ele passa por um conflito muito grande, porque a nossa cultura foi feita para heterossexuais", explica a psicoterapeuta que acrescenta "É todo um trabalho de auto-aceitação dentro de um auto-conhecimento. A pessoa tem que relevar o fato de - Eu sou diferente da grande maioria -, mas isso não quer dizer que eu seja torto, errado, que isso é algo sujo, mas é uma característica individual. Então, a pessoa tem que questionar tudo isso que foi imposto na nossa sociedade."

A radialista Juliana Santos*, de 24 anos, já teve relações heterossexuais estáveis durante a adolescência, mas sempre sentiu atrações por outras meninas. Somente aos 21 anos, ela iniciou o seu primeiro relacionamento gay "Mesmo sentindo esta atração ainda não tinha percebido minha homossexualidade, pois achava que aqueles sentimentos eram comuns a todos. Só aos 21 anos, depois de dois relacionamentos heterossexuais estáveis, foi que iniciei um relacionamento gay. Na ocasião, passei a desconfiar das tais atrações e tive coragem e iniciativa para certificá-las."

Juliana ao se assumir foi contando aos poucos para alguns amigos e pessoas que ela acreditava serem compreensivas, porém ainda não contou a família "Ainda estou analisando a possibilidade de contar para a minha família, já que se tratam de religiosos que perceptivelmente não aprovam essa situação", conta. Já Milson, tentou contar para alguns familiares e a reação não foi das melhores, sendo assim ele foi conciso em dizer que não contaria para os pais, pois eles jamais aceitariam.

Assumidos ou não, um grande número de casais, independente da sua sexualidade, sente a necessidade de se unir, formar uma família, há quem diga que isso faz parte do instinto humano, mas os homossexuais não têm esse direito como civis, e agora? "Uma vez que a sociedade aceite que tanto é possível ser hetero, homo ou bissexual e aceite também a sua sexualidade e a sua diversidade de uma forma normal, por que não assumirmos que são pessoas que se amam, são do mesmo sexo e querem constituir um lar? Eu acho normal, seria uma sociedade muito mais saudável e diminuiria muito essa aceitação homossexual", fala Dr. Maura.

Porém, nem dentro do mundo GLS essa é uma opinião unânime, pois Júnior apesar de ter vontade de constituir uma família, diz que não é a favor do casamento gay "O casamento foi feito para o homem e a mulher. Uma das questões é a religião, acho que não agradaria a igreja de modo geral", afirma. Juliana acredita em qualquer tipo de união saudável e conta "Eu moro com minha namorada há quase dois anos, e se liberado, casaremos oficialmente. Pretendemos fazer uma inseminação para termos um filho um pouco mais tarde, quando tivermos estrutura psicológica e financeira para isso."

Viver com o diferente, talvez seja um problema a menos aos homossexuais, pois conviver com o mesmo sexo é ter momentos com o similar. As mulheres, por natureza, são mais amorosas e os homens mais afastados, por mais que haja um envolvimento intenso. "Eu diria que a diferença comportamental entre o homem e a mulher homossexual é a demonstração de afeto, pois a mulher demonstra mais que o homem", explica Dra. Maura.

Os paradigmas estão impostos e o amor entre todas as raças, tribos, pessoas e sexos também. A sociedade está a caminho da pós-modernidade e da diversidade, porém cabe a cada um seguir o seu objetivo e lutar por um ideal, seja ele qual for: a favor, contra, ou ao menos apaziguador.

*Nome fictício a pedido da entrevistada.

Maura de Albanesi é psicoterapeuta, pós-graduada em Psicoterapia Corporal, Terapia de Vivências Passadas (TVP), Terapia Artística, Psicoterapia Transpessoal e Formação Biográfica Antroposófica; Master Pratictioner em Neurolinguística; e mestranda em Psicologia e Religião pela PUC.

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