segunda-feira, 26 de maio de 2008

Direção da Parada Gay barra carro de central sindical

Integrantes da Conlutas reagiram quando a PM tentou liberar a avenida e houve confronto; 4 sindicalistas foram levados ao 78º DP

Organização da parada afirma que o trio elétrico estava irregular; central nega e acusa a entidade de lucrar com o evento

Aproximadamente 30 sindicalistas entraram em confronto com a Polícia Militar na tarde de ontem ao serem impedidos pela Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo de desfilar na Parada Gay com um carro de som. Segundo a polícia, eles tentaram interromper a passagem da parada.
O confronto aconteceu por volta das 15h de ontem, no cruzamento da avenida Paulista com a alameda Joaquim Eugênio de Lima. Quatro sindicalistas foram detidos. O grupo de sindicalistas integra a central sindical Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas).
As duas entidades trocaram acusações. "Todos os trios elétricos têm normas a seguir e eles não cumpriram algumas regras, estavam com a documentação irregular", afirmou o presidente da associação da parada, Alexandre Santos.
José Maria de Almeida, presidente da Conlutas, nega e diz que o carro de som estava legalizado. "O que essa associação faz é utilizar comercialmente dessa manifestação. Fazem convênios com hotéis, empresas e lojas e ganham dinheiro com isso. Sabem que somos contra essa coisa", disse.
Alexandre Santos afirmou, por sua vez, que essa acusação de Almeida não faz sentido.
A Polícia Militar afirmou ter tentado negociar a saída pacífica dos sindicalistas.
Sem obter resultado, os policiais usaram cassetetes para forçar a saída dos sindicalistas, que revidaram atirando cavaletes e batendo nos policiais com cabos de bandeiras.
A Conlutas afirmou que uma mulher teve a mão quebrada e diversas pessoas se feriram, mas não forneceu o número de vítimas. Dois policiais militares foram atingidos por cavaletes de trânsito supostamente atirados pelos sindicalistas. Um sofreu um corte na cabeça.
O major Pedro Borges afirmou que integrantes do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) entraram portando bandeiras no carro de som da Conlutas. Segundo ele, manifestações políticas não são permitidas na parada.
Almeida e outros três sindicalistas foram levados ao 78º DP, onde assinaram um termo circunstanciado -em que se comprometem a se apresentar à Justiça para responder por desobediência e resistência à prisão- e foram liberados.

No país, combate à homofobia tem pouco apoio legal

Tema da festa de ontem na av. Paulista, o combate à homofobia deu um passo importante há dois anos com a criação de um centro de referência na cidade para quem se sente vítima desse tipo de preconceito.
Mas a aprovação de uma legislação que criminalize a prática, reivindicação central da comunidade GLBT, está bem longe de se concretizar no país.
Dois projetos do gênero tramitam no Congresso Nacional, um na Câmara dos Deputados e outro no Senado. Ambos estão parados pelo lobby religioso.
Em São Paulo, uma lei estadual, de 2001, deu alento a movimentos que atuam na área. Seu alcance, no entanto, é limitado: prevê advertência, multa ou, em caso extremo, cassação do alvará de estabelecimentos comerciais que discriminem pessoas pela sua opção sexual.
Desde a sua criação, após uma parceria entre a prefeitura e o governo federal, em junho de 2006, o centro encaminhou 22 casos que se transformaram em processo administrativo. Em quatro, houve advertência de estabelecimentos. Os outros casos estão em andamento ou em fase de recurso.
São Paulo também tem, desde março, um Centro de Diversidade, que atende homossexuais e travestis vítimas de violência.

Parada Gay perde em glitter e ganha em diversidade

Com menos go-go boys, drag queens e fantasias, evento tem decoração contida e abre espaço para popularização

Além de música eletrônica, trios tocavam samba e bossa nova; organizadores e PM não quiseram estimar público que foi à parada

Danilo Verpa/Folha Imagem

O prefeito de SP, Gilberto Kassab, cumprimenta drag queen

Nada de Marina Lima, Bruno Gagliasso ou Christiane Torloni: as maiores celebridades a dar as caras na 12ª Parada do Orgulho Gay, realizada ontem em São Paulo, desta vez foram mesmo o travesti Andréa Albertino, aquele que acabou com o jogador Ronaldo em uma delegacia carioca, e a atriz-pornô-lésbica Thammy Miranda, filha de Gretchen. Os go-go boys, aqueles modelos musculosos das festas gays, contavam-se nos dedos. A decoração dos trios elétricos limitou-se a balões coloridos. Havia pouca gente fantasiada. As drag queens eram escassas. Quanto ao som, o techno, ritmo de bate-estacas típico das baladas, cedeu espaço até para o sambão e a bossa nova.
"A parada de São Paulo perdeu o glamour, ficou popular demais", reclamou o "diabinho" Maurício Rosendo da Silva, 21, cozinheiro, vestido com uma fantasia justíssima de lantejoulas vermelhas, chifres e tridente. "Mas ganhou em diversidade", contemporizou Maria das Graças Dias, 45, professora, de mãos dadas com a namorada de gravata preta, cabelos curtos arrepiados à força de gel. "Antes, a gente nem podia sonhar em ter um trio tocando samba. Era tudo um som só, um estilo só, um tipo ideal de bicha, outro de drag", analisou. O cozinheiro preferia como era antes, "menos popular".
O performista Thiago Augusto Gomes, 21, viajou de Franca (SP) para a capital com um grupo de dez "amigas". "Nossa, eu esperava um pouco mais de brilho", disse, observando o movimento em frente ao Masp, área de concentração. Sem maquiagem, ele reclamava do pequeno número de participantes que foi "montado" à parada. Também Kimberlyn, 22, drag carioca com fantasia de Princesa Submarina, disse ter ficado desapontada com a falta de criatividade das "bichas paulistas". "Falta fantasia, meu bem."
O que se viu na avenida Paulista e na rua da Consolação foram as logomarcas dos patrocinadores. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, distribuiu bandeirinhas com dois bonequinhos homens de mãos dadas e idem com duas bonequinhas mulheres: "Caixa, o banco que acredita nas pessoas". Sobrevoando a avenida Paulista, via-se um minizepelim da marca de cuecas Surrender. Slogan (inspirado?): "A cueca que faz as cabeças".

Eu bebo, sim
Hits do "Show da Xuxa" dos tempos em que ela descia de uma nave espacial tocavam no trio de Kaká di Polly, 48, que se diz a primeira drag das paradas. O Trio da Visibilidade Lésbica, lotado de mulheres, a maioria com latinha de cerveja na mão, tocava o hino dos bebedores "Eu bebo, sim, e estou vivendo. Tem gente que não bebe e está morrendo". Bossa nova também se ouviu.
Nem a polícia nem os organizadores da parada arriscaram-se a avaliar o número de pessoas que fizeram a festa, neste ano organizada sob o tema "Homofobia Mata! Por um Estado Laico de Fato".
Antes da saída do primeiro trio, a drag Silvetty Montilla, que comandava o carro, brincou: "Alcançamos 5 milhões (risos)". O site oficial da parada divulgou esse número. Mas, no final do evento, recuou. A organização disse que só hoje apresentará um balanço, com base em imagens terrestres e aéreas. No ano passado, houve divergências sobre o número de participantes -a organização disse terem sido 3,5 milhões.
Apesar dos cerca de 20 furtos registrados pela polícia, foi uma festa até comportada. Uns beijinhos gays aqui e outros ali, a temperatura só subiu mesmo quando surgiram dois travestis de peitos de fora, diante do cemitério da Consolação. Uma gritaria. Mas quem vibrou foi um grupo de 15 jovens lésbicas, que fizeram questão de posar para fotos abraçadas aos implantes de silicone. "Que delícia de peitos", disse uma.

EXPORTAÇÃO
Primeiro canal gay da TV paga brasileira, o For Man está sendo exportado para a América Latina. Acaba de estrear na Argentina, México e Peru.

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