Indomável é o melhor adjetivo para qualificar o vírus HIV. Após 25 anos da publicação, na revista "Science", do primeiro isolamento desse parasita, a comunidade científica só acumula frustrações. Nenhuma barreira bioquímica desenvolvida até agora conseguiu conter a infecção. O desenvolvimento da tão almejada vacina ainda é apenas um sonho distante.
"A comunidade científica está deprimida, porque nós não vemos esperança de sucesso", declarou em fevereiro o biólogo americano David Baltimore, que ganhou o Nobel por ter descoberto o mecanismo de replicação de vírus como o HIV.
"Penso que o maior erro que cometemos até agora foi colocar muito foco nos testes em larga escala de vacinas e não dar atenção suficiente para a pesquisa básica. Nós precisamos aprender com isso", afirma à Folha Dennis Burton, do Instituto de Pesquisa Scripps, na Califórnia (EUA).
O pesquisador assina um dos artigos do especial de 25 anos da descoberta do HIV, publicado na última sexta-feira (9) pela mesma "Science".
O retrocesso científico do fim do ano passado é exemplar. O teste mais avançado de uma vacina contra a Aids, criada pela farmacêutica Merck, foi suspenso após 82 voluntários (49 vacinados e 33 do grupo de controle) terem sido contaminados pelo vírus.
"O número foi pequeno e não foi a vacina que causou a contaminação, o que seria inaceitável", diz Esper Kallás, infectologista, professor da Unifesp e coordenador dos testes com a vacina no Brasil. No mundo, 3.000 pessoas receberam doses do medicamento.
"A defesa imunológica que a vacina conferiu aos participantes não foi suficiente. O vírus continuou passando [pelas defesas do corpo]", afirma.
Apesar de desde o começo das pesquisas, há 25 anos, o HIV ser qualificado como versátil, o desafio a cada novo estudo é maior. O vírus não pára de surpreender por causa da sua alta velocidade em desenvolver novas formas genéticas.
"O HIV consegue driblar o sistema imunológico com mais habilidade do que nós imaginávamos", diz Kallás, que concorda com a necessidade da volta rápida para a pesquisa básica. "Apesar de o vírus ser o mais estudado do mundo, temos de aprender mais sobre o comportamento dele", diz.
Toda a comunidade científica concorda com a volta para a bancada. E, mesmo depois dos últimos insucessos, em continuar na busca pela vacina. A urgência é grande. Números da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que a cada dia mais de 6.800 pessoas são contaminadas. E 5.750 morrem.
Como os resultados do fim de 2007 que levaram o projeto da vacina a dar errado ainda não estão prontos, afirma o infectologista da Unifesp, a lista de perguntas que precisam ser respondidas é enorme.
"Nós colocamos pequenos fragmentos do HIV na vacina que foi aplicada. Será que precisava ser mais? Será que foi a quantidade de vacina em cada uma das doses? Será que temos de fazer combinações de vacinas? Ou mudar a forma de apresentar os fragmentos do vírus para o organismo"?
Para John Moore, outro pesquisador que participou do especial da "Science", a questão do desconhecimento sobre como fazer uma vacina é a que tem mais peso no momento.
"Efetivamente, nós não sabemos como fazer uma vacina que seja realmente eficiente", diz o pesquisador da Universidade Cornell (EUA).
Circuncisão e gel
O fracasso de uma vacina não é o fim do mundo, segundo os cientistas ouvidos pela Folha. Pelo menos há uma base de onde é possível continuar.
"Não podemos abandonar a vacina. Ela tem de continuar a ser um sonho", afirma Kallás. "Não podemos dar uma declaração de derrota e voltar as costas para aquilo que pode ser a maior esperança para combater a epidemia. Hoje são 33 milhões de pessoas contaminadas. Daqui a 20 anos, talvez sejam 150 milhões."
Segundo Kallás, existem poucas opções que possam ser aplicadas como políticas de saúde pública, apesar de a circuncisão, por exemplo, já ter se mostrado eficaz em barrar a transmissão e vários géis vaginais estarem em teste hoje com o mesmo fim. "A circuncisão e o uso de géis têm problemas.Temos que partir do princípio que a maioria das pessoas gosta de fazer sexo e o vírus se transmite por via sexual."
Mesmo com pelo menos 20 projetos em curso hoje no mundo para o desenvolvimento de uma vacina contra a Aids, é difícil encontrar um otimismo rasgado entre os atores da comunidade científica.
O pesquisador da Escola Médica de Harvard, Bruce Walker, é um dos que fogem um pouco dessa regra. "Certas pessoas estão infectadas com o HIV há 30 anos e não estão doentes. Estou otimista que poderemos usar esse dado para criar uma vacina efetiva", diz. "Mas isso, como foi visto nos últimos 25 anos, não será fácil."
Nova campanha anti-Aids foca o sexo entre homens
O Ministério da Saúde lançou nesta terça-feira uma campanha anti-Aids destinada a homens que têm relações com homens --gays, travestis e aqueles que fazem sexo com homens, mas não se dizem gays.
Reprodução |
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Cartaz de campanha anti-Aids do Ministério da Saúde, que foca o sexo entre homens |
A campanha prevê a distribuição de cartazes e folhetos sobre a prevenção ao vírus e o uso do preservativo. O material será distribuído a organizações ligadas ao público-alvo e divulgado em locais como danceterias e bares.
Entre as imagens há ilustrações de beijos, carícias e sexo oral entre homens. As ações voltadas a homens que se relacionam com homens era necessária, diz Tony Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), que participou da elaboração do plano.
O plano vai até 2011 e será colocado em prática nos níveis federal, estadual e municipal. A intenção é não só tratar da prevenção, mas também abordar preconceito e direitos humanos.
Ele ocorre após duas iniciativas em 2007 que tinham como alvo mulheres --incluídas as que têm relações homossexuais- e transmissão vertical --da mãe para o filho.
A última grande campanha contra a Aids voltada aos homens que se relacionam com homens foi feita em 2002, ao custo de R$ 3,3 milhões. O ministério não divulgou o valor da campanha e do plano atual.
Testes mostram que gel contra Aids é tolerável para mulheres
O desenvolvimento de um gel vaginal que previna a infecção pelo vírus da Aids deu um passo à frente depois da comprovação de que a utilização diária não gera riscos para a saúde das mulheres. Isso apesar de sua eficácia contra a doença ainda não ter sido provada, anunciaram os pesquisadores nesta segunda-feira (25).
O microbicida, método preventivo experimental cujo desenvolvimento deixa os cientistas esperançosos quanto à batalha contra a Aids, ainda está em uma fase pouco avançada. Os cientistas buscam um método para que as mulheres possam se proteger sem ter que depender do consentimento do homem para usar preservativos nas relações sexuais.
Os cientistas pediram a 200 mulheres sexualmente ativas e não infectadas com o HIV em Nova York e na cidade indiana de Puna que aplicassem o gel diariamente antes de manter relações sexuais por um período de seis meses. Também pediram que usassem camisinhas, além do gel.
Segundo os testes, não ocorreram transtornos nas funções do fígado, sangue ou rins e mais de 90% das mulheres disseram que pensavam seriamente em utilizar o gel se for provado que o produto ajuda a prevenir a propagação do vírus da Aids.
"Agora podemos proceder com maior confiança em um caminho que responderá se este e outros géis com componentes específicos para o HIV serão capazes de prevenir sua transmissão nas mulheres", afirmou a chefe da pesquisa, Sharon Hillier, da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburg.
Pesquisa
As descobertas foram apresentadas nesta segunda-feira na convenção internacional de microbicidas em Nova Déli, uma semana depois de os cientistas anunciarem o primeiro protótipo produzido para testes clínicos completos, mas não efetivo para prevenir a infecção.
Atualmente vários géis com microbicidas experimentais estão em teste em todo o mundo, mas nenhum se mostrou efetivo e alguns, inclusive, aumentaram o risco de contrair o vírus.
Entre 30,6 milhões e 36,1 milhões de pessoas de todo o mundo têm Aids ou são portadoras do HIV, segundo dados da Unaids (Programa das Nações Unidas sobre Aids).
Fracasso
Na semana passada, um gel vaginal do tipo se mostrou ineficaz nos testes clínicos, na primeira vez que um microbicida com esse fim passou integralmente por testes.
O gel, chamado Carraguard e produzido pelo Conselho da População --uma ONG especializada em pesquisa médica--, foi testado por três anos em provas clinicas avançadas.
"A pesquisa mostra que o Carraguard é inofensivo e não acarreta danos por uso vaginal durante dois anos. Entretanto, o estudo também não foi capaz de mostrar sua eficácia na prevenção do HIV do homem para mulher", afirma.
Carraguard, um gel sem cheiro e produzido a partir de um derivado de algas, obteve resultados promissores em laboratório, prevenindo a contaminação de células sadias. Contudo, esse resultado não conseguiu ser reproduzido posteriormente.
Os testes, realizados de março de 2004 a março de 2007, envolveram 6.202 mulheres em três cidades da África do Sul, o país mais atingido pelo vírus HIV no mundo, com 5,5 milhões de soropositivos em 48 milhões de habitantes
Cientistas testam vacina inalável contra o HIV
Um grupo internacional de cientistas alcançou novos progressos no desenvolvimento de uma vacina preventiva contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV) ao criar um medicamento inalável.
O trabalho, publicado hoje pela revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", revela que o novo teste usa antígenos modificados de HIV, uma substância que dá lugar à formação de anticorpos.
Segundo os cientistas, testes realizados em macacos deram resultados positivos. O grupo afirma que conseguiu demonstrar em macacos que a vacina é "segura".
Segundo o CSIC (Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha), os antígenos são usados para ativar no organismo uma resposta ao vírus.
Em um teste com macacos, os cientistas conseguiram uma forte resposta celular para ativar os linfócitos CD4+ e CD8+, essenciais na defesa do organismo.
Os resultados do segundo teste, do qual participaram 40 pessoas saudáveis, revelaram que 90% dos vacinados tiveram uma resposta imune de células CD4+ e CD8+ frente aos antígenos do HIV, uma reação que se manteve pelo menos por 72 semanas.
A administração da vacina por via respiratória facilitaria seu uso em programas em países em vias de desenvolvimento e representaria uma economia do material sanitário necessário.
Além disso, o sistema respiratório é o que apresenta a segunda resposta mais rápida a imunizações, só perdendo para o sistema digestório.
Novo remédio contra a Aids é aprovado nos EUA
As autoridades da saúde dos Estados Unidos deram nesta sexta-feira (18) seu sinal verde para um novo medicamento contra a infecção do vírus de imunodeficiência humana (HIV) em adultos.
A Administração Federal de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) informou em comunicado que o medicamento, chamado Etravirine, é recomendado para pacientes que não apresentaram resultados com outros tratamentos anti-retrovirais.
Acrescentou que a autorização foi emitida depois de se observar uma atividade anti-HIV contra cepas mutantes que resistem a outros tratamentos.
"Este é outro importante produto para muitos pacientes com a infecção do HIV que não respondem aos medicamentos disponíveis", disse Debra Birnkrant, diretora da Divisão de Produtos Antivirais da FDA.
A FDA assinalou que os efeitos colaterais mais comuns do medicamento são reações de pele e náuseas.
ONU e OMS reafirmam o uso de preservativos para prevenção da Aids
A OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Unaids (Programa das Nações Unidas sobre Aids) mantêm suas recomendações sobre a prevenção ao vírus HIV, apesar de recentes estudos terem mostrado que, supostamente, tratamentos com medicamentos anti-retrovirais podem evitar a transmissão nas relações sexuais.
Na quarta-feira (30), a Comissão Federal Suíça para os Problemas Relacionados à Aids anunciou que, sob determinadas condições estritas, as pessoas que se beneficiam de um tratamento anti-retroviral eficaz não contaminam seus companheiros durante relações sexuais.
A comissão se baseou em um estudo aplicado a 393 casais heterossexuais, nos quais um dos membros é portador do vírus e está sob tratamento anti-retroviral. Durante a pesquisa, pôde ser constatado que nenhum dos infectados contagiou seu companheiro.
"São necessárias mais pesquisas. Embora o risco tenha sido reduzido significativamente, não está demonstrado que o desaparecimento do vírus no sangue elimina completamente o risco de transmissão", afirma um comunicado conjunto da OMS e da Unaids.
"Não mudaremos nossas recomendações", afirmou a porta-voz da OMS, Fadela Chaib. "Como não há 100% de certeza de que o sistema funcione, nós seguimos recomendando a utilização do preservativo como o melhor método para evitar a transmissão", acrescentou.
Cautela
Segundo Chaïb, "a OMS não pode se arriscar a transmitir a mensagem de que a doença já não é perigosa". "Além disso, na maioria dos países em desenvolvimento, nos quais a doença é mais propagada, não se conta com as medidas necessárias para controlar eficazmente os doentes e, por isso, esse sistema não seria eficaz", afirmou.
A constatação do comitê suíço também foi rejeitada pela Comissão Européia --braço executivo da UE (União Européia). Markos Kyprianou, porta-voz do comissário de Saúde europeu, afirmou que o bloco vai seguir mantendo seus critérios de recomendação de manter sempre relações sexuais com proteção quando um dos membros for portador do vírus.
O Conselho Nacional de Aids da França também rejeitou o estudo suíço, afirmando que "os resultados ainda são preliminares".
Estudo acha 273 "alvos" para guerra contra o HIV
O HIV é um seqüestrador eficiente de proteínas humanas. Análise genética feita por cientistas nos Estados Unidos conseguiu identificar 273 potenciais "reféns" usados pelo vírus para se multiplicar dentro do organismo que ele invade. Essa miríade de possibilidades abre novos caminhos para o estudo científico da Aids e do HIV.
Até hoje, apenas 36 proteínas desse tipo, usadas pelo invasor como meio para se multiplicar no interior do seu hospedeiro, haviam sido identificadas pelos cientistas. Mas, após o estudo publicado hoje na revista "Science", a lista de "seqüestráveis" cresce bastante.
Existe um paradoxo que é só aparente neste novo passo da guerra contra a Aids. Se o quadro bioquímico ficou mais complicado --com um número de interações entre vírus e células humanas muito maior--, existem também mais "cativeiros" para serem investigados.
"Em tese, não seria necessário desenvolver drogas que combatessem todas as 273 ligações. Se controlarmos apenas um desses "seqüestros", poderíamos ter sucesso contra o HIV", afirmou à Folha Stephen Elledge, pesquisador da Escola de Medicina de Harvard e principal autor do estudo.
Como o HIV tem um arsenal biológico bastante simples (nove genes que codificam 15 proteínas), todo o seu poder de fogo está na capacidade que ele tem de usar o maquinário celular do organismo invadido.
As 273 proteínas humanas encontradas agora são os chamados "fatores de dependência do HIV". "A expansão dessa lista de alvos é uma espécie de máquina geradora de hipóteses para o desenvolvimento de novas pesquisas e drogas", explicou Elledge.
Sem controle
O processo de invasão tem várias etapas. Basta um desses canais ser ativado para que a proliferação viral ocorra.
Após a ligação do vírus com um fator de dependência, o RNA viral (molécula-irmã do DNA na qual estão codificados os genes do HIV) será transformado em DNA. Desta forma ele consegue chegar ao núcleo das células humanas e traduzir seus genes em proteínas. Estas darão origem a novos vírus, que saem da célula infectada e se espalham pelo hospedeiro.
O rastreamento das 273 proteínas foi feito por meio de uma técnica que corta e cola as moléculas de RNA. "Esse é um procedimento bastante barato em comparação com outros estudos genômicos. Ele custou US$ 70 mil. Seqüenciamentos de DNA de tumores podem chegar aos US$ 10 milhões."
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