sábado, 1 de março de 2008

Nova eleição do PT baiano embaralha as cartas da sucessão municipal

A decisão da Executiva Nacional do PT de realizar novas eleições internas para o partido na Bahia no próximo dia 16 repercutiu mal dentro e fora do partido. Anunciada na última segunda-feira, 25, a anulação do Processo de Eleição Direta (PED) de dezembro passado, por denúncias de fraudes, enfraquece e até ameaça uma eventual candidatura própria da legenda à Prefeitura de Salvador nas eleições municipais de outubro próximo.

Não faltou entre os oposicionistas quem visse na medida uma manobra com o propósito de empurrar a sigla para uma aliança ainda no primeiro turno com o prefeito João Henrique, candidato à reeleição pelo PMDB. "Como é que o partido do presidente Lula e do governador Jaques Wagner vai se explicar à população se não lançar candidato em Salvador?", indagou Varela, em comentário feito durante o telejornal Bahia Record, na última terça-feira.

Na opinião do radialista, que é pré-candidato do PRB à sucessão no Palácio Thomé de Souza, o maior prejudicado com a nova eleição no PT baiano foi o ex-presidente da legenda e candidato à reeleição Marcelino Gallo, que é favorável à candidatura própria do partido.

Marcelino Gallo contestou a decisão do Diretório Nacional, para quem a decisão de remarcar eleições sem apurar as denúncias de fraudes foi uma forma de empurrar a sujeira para debaixo do tapete. Questionado sobre a relação entre o processo sucessório dentro do PT e as eleições municipais, Gallo não se fez de rogado: "É uma coincidência muito grande."

O opositor de Gallo nas eleições internas, Jonas Paulo, rebateu as insinuações de Varela: "Ele não entende de democracia, tampouco de PT e por isso fez o comentário de maneira irresponsável."

Jonas Paulo tem o apoio do deputado federal Walter Pinheiro, único dos pré-candidatos petistas à sucessão municipal que admite a possibilidade de apoiar João Henrique ainda no primeiro turno.

Em entrevista ao UOL publicada no último dia 8, Walter Pinheiro declarou que 2010, quando ocorrem eleições para os governos estaduais e federal, é um ano estratégico e que "o PT não pode ficar olhando para o próprio umbigo".

Para Varela, um sinal inequívoco de que a costura da aliança PT-PMDB já está em andamento foi o almoço que reuniu o prefeito e o parlamentar petista no último sábado, 23. "Pra que é que foram almoçar juntos? Pra comer macarronada?", ironizou.

Por meio de sua assessoria de imprensa, Pinheiro confirmou o almoço com o prefeito. "João Henrique estava agoniado, pedindo que o Ministério da Saúde adiantasse recursos financeiros para Salvador. Eu disse a ele para ter paciência, pois o orçamento sequer foi votado. Conversamos muito pouco sobre a sucessão", disse o deputado.

Wagner
Oficialmente, Jaques Wagner declarou que preferia ver seu partido preocupado somente com a sucessão municipal, e não envolvido com disputas internas em um ano eleitoral. Sua postura é diplomática: sabe que não pode impedir o partido de lançar candidato, mas acredita em uma aliança com João Henrique no segundo turno.

O PMDB é o maior partido da base aliada petista no plano estadual, com 9 deputados estaduais, 3 federais, 121 prefeitos, dois secretários de Estado (Indústria Comércio e Mineração e Infra-estrutura) e um ministro, Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), que apoiou Wagner nas eleições de 2006.

O PT, em contrapartida, dá suporte à administração João Henrique com quatro secretários: Carlos Alberto Trindade (Saúde), Gilmar Santiago (Governo), Maria das Dores Loiola Bruni (Desenvolvimento Social ) e Antônia Garcia (Reparação).

Consenso
O deputado federal Nelson Pelegrino, que se apresenta como pré-candidato petista à sucessão de João Henrique, defende uma solução mais rápida e consensual que a remarcação de eleições para a segunda quinzena de março. Ele prega a divisão do mandato entre Gallo e Jonas Paulo. "Essa indefinição é altamente prejudicial e provoca uma enorme fratura institucional no partido. Precisamos ter uma unidade de comando urgente", avalia.

Jonas Paulo e Marcelino Gallo se mostram até favoráveis à formação de uma unidade em torno dos interesses do PT, mas nenhum dos dois explica ao certo de quem seria a iniciativa e como poderia ser estabelecida uma divisão de poderes na prática.


À distância
Com exceção de Varela, os outros pré-candidatos à eleição de Salvador preferem acompanhar a crise no PT baiano à distância. O ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB), disse que este é um assunto de natureza interna e deseja que o impasse seja logo resolvido "pois o PT é um partido de grande importância política para o Estado". O deputado federal ACM Neto (DEM) foi lacônico: "Não vou comentar um problema interno deles".

Entenda o caso
A confusão em torno do Processo de Eleição Direta (PED) no partido começou antes mesmo da votação para o Diretório Estadual. No segundo turno do pleito para a Executiva Municipal de Salvador - realizado em dezembro de 2007 - a candidata Vânia Galvão, vereadora que faz oposição ao então presidente estadual da legenda, Marcelino Gallo, foi declarada vencedora por apenas um voto de diferença para seu oponente. O resultado foi bastante contestado pelo adversário Edísio Nunes, da Chapa "A esperança é vermelha". Ele afirma ter vencido por dois votos de frente.

Na eleição para o Diretório Estadual a disputa foi mais acirrada ainda e contou com episódios inusitados. Três boletins parciais, antes da divulgação do resultado oficial, indicavam uma pequena margem de diferença entre os candidatos Jonas Paulo, da chapa "Construindo um Novo Brasil" e Marcelino Gallo de "A esperança é vermelha". Como não houve divulgação do resultado oficial, ambos se declararam vencedores. Marcelino disse que obteve uma diferença de pelo menos 1.500 votos a seu favor. Jonas, por sua vez, diz ter alcançado uma vantagem de 296 votos.

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