terça-feira, 25 de março de 2008

Depois de discos autorais, Daniel Gonzaga, filho de Gonzaguinha, grava um álbum inteiro com músicas do pai

Os filhos da geração de artistas surgida na era dos festivais está em campo. Diogo Nogueira (filho de João Nogueira), Maria Rita (Elis Regina e Cesar Mariano), Léo Maia (Tim Maia), Bernardo Lobo (Edu Lobo), Carol Saboya (Antônio Adolfo), e Daniel Gonzaga (Gonzaguinha). Este último, aos 33 anos, já um veterano, está lançando o quinto disco, Comportamento geral (Biscoito Fino). Assim como os demais, mesmo que se afirmem alheios às inevitáveis comparações, demoram a encarar o repertório dos pais ou mães, mas acabam rendendo-se à suas heranças musicais: “Depois de quatro discos, já dá para atenuar, e gravar Gonzaga. Mas foram apenas 15 de uma obra de 450 composições”, comenta Daniel Gonzaga, que revisitou primeiro o repertório do avô, Gonzagão. “Fiquei durante um ano pensando sobre este disco. O processo de escolher as canções foi mais afetivo. Queria mostrar mais o lado B da obra de Gonzaga, dos primeiros discos. Demorou tanto, que o CD que era para ter sido lançado nos 15 anos da morte dele, está saindo agora, dois anos depois”, conta Daniel Gonzaga.

Além do estigma de vir de um pai que foi um dos mais talentosos de uma geração farta em talentos, Daniel (assim como outros filhos desta geração), ainda por cima tem uma voz que impressiona pela semelhança com a de Gonzaguinha. Na estrada desde os 21 anos, ele garante que não vê a razão de se dar tanta importância à herança genética: “Tem tantas outras coisas para o pessoal falar, este assunto é até redundante, e não vejo relevância no assunto. Agora, acho a insistência uma sacanagem, tem o lado genético. Ninguém tem culpa de ter a voz igual ao parente e aí, quem critica está, no mínimo, travando uma pessoa que está começando. Veja o exemplo de Maria Rita. A voz dela parece com a de Elis, mas Maria Rita também é uma grande cantora, e canta coisas que Elis nunca gravaria. Assim como Elis tem músicas que não ficam bem na voz de Maria Rita, que passa um sentimento de alegria e paz quando canta. Com Elis não era assim. Ela cantava Casinha na marambaia, e ficava um coisa pesada”, tece suas próprias comparações.

Outra diferença entre as duas gerações é que a anterior tinha bem menos espaços para divulgar sua música, mas o acesso aos mais importantes não era tão difícil quanto hoje: “Hoje se tem mais de 1000 canais de TV a cabo, internet, mesmo assim fica difícil vencer este, digamos, monoteísmo global. Na época de Gonzaga tinha poucos canais, mas eles mandavam no Brasil. Um programa como o de Flávio Cavalcanti fazia de um cara sucesso de uma noite para a outra.” o que continua muito parecido entre as duas gerações é a sociedade brasileira. É o que Daniel Gonzaga constata na recepção das músicas de Gonzaga Jr pela novíssima geração que vai aos seus shows: “Eles preferem as músicas com conotação social, do que as românticas. Vibram quando canto, Está quente pra chuchu/o calo dói, a certeza me rói/levo bronca do patrão, de Comportamento geral. Ou então Dias de santos e Silvas, com pobre não tem mesmo vez/não dá sorte ou dá azar. Quarenta anos depois de 1968 o mundo continua igualzinho. E o que tento é fazer passar estas músicas para a molecada”.

Com o novo disco, Daniel Gonzaga já começou a fazer shows no Rio e em São Paulo, e na base do “minha é andar por este país”, ele chega em abril a João Pessoa: “Espero de lá, receber convite para um show no Recife, que é uma cidade onde estão parentes meus, onde sempre me sinto bem.”

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