domingo, 30 de março de 2008

Bandas criam estratégias contra piratas

Após "Crazy", espécie de soul eletrônico que se tornou uma das músicas mais ouvidas de 2006, não era pequena a expectativa em torno do segundo disco da dupla Gnarls Barkley.

O álbum, "The Odd Couple", estava previsto para chegar às lojas em 8 de abril. Como muitas de suas faixas apareceram na internet em fevereiro, a gravadora (Atlantic/Warner) antecipou o lançamento no iTunes para o último dia 18.

Numa segunda-feira (17 de março), o grupo The Raconteurs colocou mensagem em seu site (www.theraconteurs.com) informando que o segundo disco da banda, "Consolers of the Lonely", estava pronto e que começaria a ser vendido já no dia 25.

A rapidez do processo, dizia a banda no site, era para "levar o disco aos fãs o mais rápido possível". Sem entrevistas, sem material de promoção, sem cópia para a imprensa. Nada.

Ben Beardsworth, diretor da XL, gravadora do Raconteurs, disse que a banda cogitou a possibilidade de não anunciar o disco -sem nenhum aviso, o "Consolers..." estaria nas lojas.

Dois pesos, duas medidas

A estratégia dos dois lançamentos tem como motivação aparente a tentativa de amortizar os estragos causados pela pirataria on-line.

Desde o advento do Napster, em 1999, gravadoras lutam para evitar que seus discos caiam na internet sem autorização.

(Enquanto isso, alguns artistas testam alternativas -dois exemplos recentes são os casos do Radiohead e do Nine Inch Nails. Ambos colocaram seus últimos discos para download sem intermediários --e deixaram para os fãs a tarefa de botar preço no produto.)

Mas, para os lançamentos tradicionais, talvez essa opção de antecipar a chegada dos discos às lojas traga alguns objetivos implícitos.

Veja "Third", o aguardado terceiro álbum do Portishead. Há duas semanas, o disco já está na internet. Mas seu lançamento não foi antecipado. Continua num distante 28 de abril.

Por quê? Talvez porque os comentários elogiosos em blogs, sites e jornais sirvam para alimentar a expectativa em torno do lançamento oficial.

Já "The Odd Couple", do Gnarls Barkley, que exala melancolia e sem nenhuma canção tão imediata quanto "Crazy", gerou repercussão quase oposta à do Portishead.

Ao adiantar o início da comercialização oficial do álbum, a gravadora amortece os efeitos de possíveis propagandas desfavoráveis em blogs e sites.

Gnarls Barkley é formado pela voz extensa e de caráter soul de Cee-Lo Green e pelas manipulações eletrônicas do produtor Danger Mouse.

Ambos se destacam em outros projetos (especialmente Danger Mouse; leia ao lado), mas a união que parecia tão fluida em "St. Elsewhere" (2006; chegou ao quarto lugar na parada da Billboard) deixa aparentar algumas arestas incômodas neste "Odd Couple".

O primeiro single, "Run", é das poucas faixas festivas do álbum -no todo, há uma atmosfera passadista, com teclados retrô, bateria funkeada e muitos efeitos. Música emblemática do clima do disco é a lentaça "Who's Gonna Save My Soul".

Raconteurs

Já o formato de lançamento de "Consolers of the Lonely", dos Raconteurs, deixa escapar um cheiro de hipocrisia. Apenas uma semana separou a divulgação do nascimento do álbum e a sua comercialização.

Eles disseram que não deram o disco à imprensa para que os fãs não o recebessem sob o peso de um pré-julgamento.

Uma comparação. No cinema, costuma-se exibir filmes para jornais e revistas antes da estréia para que sejam feitas as resenhas. Quando os estúdios têm certeza de que um filme será massacrado pela crítica, eles costuma cancelar exibições antecipadas à imprensa.

Não quer dizer que "Consolers of the Lonely" vá ser apedrejado (até porque Jack White é adorado pela crítica), mas não se sabe de nenhum estúdio de Hollywood que tenha justificado tal atitude dizendo que fez isso "para os fãs"

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