Desde que estouraram no meio da década de 90 com sucessos como As Dores do Mundo e Encontrar Alguém, os mineiros do Jota Quest passaram a somar mais hits como Fácil e Dias Melhores. Mesmo com a exposição, às vezes exagerada da rádio e TV, a banda não se incomoda com o rótulo pop. Em entrevista ao Terra, os integrantes do grupo vão além e admitem uma "vocação" natural no estilo.
La Plata, novo CD do grupo, sintetiza essa reunião de elementos, vindos de várias referências em uma mistura que mescla levadas dançantes do samba-rock, como em Ladeira, até influências de bandas inglesas em melodias e harmonias que não devem em nada para grupos estrangeiros, como na faixa Seis e Trinta.
Após 12 anos do lançamento de seu primeiro álbum, J.Quest, de 1996, o grupo ainda exalta este novo período que vive a música brasileira. "Talvez até pela Internet estar aí não temos aquele modismo. Teve época que era só axé, só sertanejo, só pop rock. Agora você tem tudo aí, todo mundo trabalhando. Os independentes crescendo", explica o baterista Paulinho Fonseca.
Confira a entrevista na íntegra:
Esse foi o primeiro CD que vocês gravaram no estúdio que montaram em Belo Horizonte. Como foi essa experiência?
PJ - A gente podia pegar a grana e gastar, viajar, mas a gente montou o estúdio. E a maior vantagem é não ter "taxímetro" correndo. Poder gravar 1h da manhã, 16h da tarde, qualquer hora. Inspiração não tem hora pra vir. Eu gravei na hora que tava afim.
Rogério Flausino - Poder fazer tudo lá, pré-produção, mixagem, gravação, fazer tudo perto de casa sem ter que morar em hotel. Acho que tudo somou pra esse resultado bom.
E o processo de composição. Vocês pararam com os shows ou tentaram conciliar com a turnê?
PJ -A gente tentou conciliar, mas não deu. Era um ritmo muito frenético de shows e não tinha jeito de gravar um disco tocando, não é nosso perfil. Não é regra, talvez possa dar certo no ano que vem.
E como foi trabalhar novamente como o Liminha na produção?
Rogério Flausino - Para finalizar nós o chamamos. Ele já nos conhece e sabe lidar com uma banda. Tira som como ninguém. Ele sabe como ninguém administrar essa loucura. Banda é diferente de artista solo.
PJ -O Liminha ajudou nessa parte de administrar a parada toda. É um quebra-cabeça, a gente tinha quarenta boas idéias e tínhamos que escolher quais íamos trabalhar ou não. Saber organizar tudo e não perder tempo.
Por mais que o CD tenha uma "cara" de Jota Quest, cada música possui uma identidade própria, mesclando influências de black, música brasileira ou outras coisas, como que cada um leva sua influência para o estúdio?
PJ - Está enraizado na gente esse lado de banda de garagem. Pra mim, é fácil fazer uma música como Seis e Trinta. Foi assim que comecei. Isso é nosso também.
Rogério Flausino - Tudo que a gente não quis fazer foi exatamente podar essas referências. Todo mundo traz um monte de coisa e a gente fica olhando para aquilo.É um caldeirão, o que a gente não quis foi podar a música pela música. Vamos trabalhar ela até acabar.
E ao trabalhar todas essas referências, tentar mesclar todas nesse som da banda, hoje com mais tempo de estrada, vocês se sentem mais confortáveis em tentar coisas novas na fusão de um som mais pop?
PJ - Uma prova disso é esse CD. Essa mistura. Senão a gente fazia sempre a mesma coisa. A gente tem uma vocação pop e acabou. Temos que assumir isso, vamos tocar no rádio. É nossa vocação.
Rogério Flausino - Acho tudo muito pop. Metallica é pop. O que pode ou que não pode? No pop pode tudo.
O próprio rótulo pop, que se tornou sinônimo de música fraca tempos atrás, diminuiu essa imagem "degradante". Vocês se sentem um pouco responsáveis por essa valorização?
Rogério Flausino - A gente assumiu essa coisa de ser pop e agora estamos tranqüilos. Desde essa época para cá, tudo ficou mais leve, mais gostoso ser Jota Quest. Esse rótulo vai mudando de peso.
PJ - A palavra pop tem um significado diferente em cada período. Depende do tempo. Acho que cinco anos atrás isso era horrível.
E a parceria como Ashley Slater, do Freak Power? De onde surgiu a idéia e como aconteceu o convite?
PJ - A gente já gostava do trabalho dele na época, era muito parecido com o som que a gente queria fazer. E a gente queria chamar alguém diferente, mas alguém que tenha afinidade mas também não o Michael Jackson. E Internet a gente acha tudo. Encontrei o empresário do cara mas não deu certo. Depois de uns quatro meses o cara me manda um e-mail falando que estava sem empresário e era pra falar com ele mesmo.
O Jota Quest foi uma das últimas bandas dessa geração intermediária a se consolidar. De onde vocês estão hoje, o que acham da atual música brasileira?
Rogério Flausino - Estamos no final da primeira década dos anos 2000. No começo dos anos 90, as gravadoras saíram contratando um monte de artistas. Acho que quando isso foi acontecer agora, pintou a pirataria. Então rachou. Alguns conseguiram crescer, como Charlie Brown Jr., Nx Zero e os meninos aí, Pitty, paralelamente a música eletrônica. Por trás disso tudo, tem uma porrada de banda de tudo quanto é jeito. A Internet veio por fora, não tem mais essa mecânica da gravadora.
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