domingo, 23 de novembro de 2008

Turma da Mônica fica mais velha e muda de gênero na versão mangá

Capa do número de estréia da revista, que mostra os personagens de Mauricio de Sousa na fase adolescente

Há um incortonável estranhamento na leitura do primeiro número de "Turma da Mônica Jovem", que já é vendido em lojas de quadrinhos paulistanas (Panini, 132 págs. R$ 5,90).

Demora um pouco para assimilar as duas principais mudanças da obra.

A primeira e mais evidente é aceitar que os personagens cresceram e estão na adolescência.

A segunda é constatar que o novo projeto dos Estúdios Mauricio de Sousa faz uma radical mudança de gênero. Sai o quadrinho infantil, entra o mangá.

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Na prática, há apenas um verniz de mangá neste primeiro número.

A revista, por exemplo, é lida da esquerda para a direita, e não o contrário como ocorre nos quadrinhos japoneses.

O estilo oriental de produzir histórias gráficas é usado em cenas-chave mais expressivas, ora sobre humor, ora sobre pontos cruciais da narrativa.

Nessas situações, há as tradicionais linhas cinéticas de fundo e as caras e bocas cartunizadas dos personagens representados.

No mais, os desenhos se assemelham às produções tradicionais dos demais quadrinhos da Turma da Mônica, só que com uma temática oriental e mais voltada à ação.

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Mas há, do formato à proposta, uma clara intenção de amadurecer os personagens, de modo a atingir outros públicos, em que se destaca o dos leitores de mangás.

Os mais jovens ficam com as histórias tradicionais, que continuam a ser publicadas mensalmente. Os demais, como essa nova versão.

"A turma agora vive em dois universos", escreve Mauricio de Sousa, num texto explicativo presente neste primeiro número.

"Naturalmente se avolumam comentários pro sim e pro não. Mas vale a pena experimentar uma sensação nova, até mesmo perigosa, mas inédita e desafiadora nesta nova série."

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Os comentários "pro sim e pro não", como registra o empresário e desenhista, são o nó da série e o que pode ditar o futuro dela nas bancas.

Quem superar o estranhamento inicial vai encontrar a história de um grupo de adolescentes que é convocado a salvar o mundo de Yuka, uma rainha do mal.

Os que ainda resistirem ao novo formato tendem a ver nos jovens os mesmos personagens que permaneceram crianças por décadas.

E vai resistir a aceitar um Cebolinha -agora Cebola- que troca o "r" pelo "l" apenas quando está nervoso. Um Cascão que toma banho. Uma Magali que controla a dieta.

Um Anjinho que, agora, usa o nome de Céuboy e se parece com o Anjo dos X-Men.

Um Louco que é professor. Um Capitão Feio que quer ser chamado de Poeira Negra.

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Antes mesmo da estréia, sem que a obra sequer fosse lida, já se viam comentários igualmente contrários e favoráveis à publicação.

O ideal -embora nem sempre ocorra no meio virtual- é que a revista seja lida para, aí sim, ser criticada ou elogiada com mais propriedade e conhecimento de causa.

Mas é fato que a aceitação vai depender muito do quanto o leitor vai estranhar o amadurecimento dos personagens.

Se aceitar a alteração, pode vir a gostar da série produzida em outro gênero.

Do contrário, vai ser muito difícil, tal qual um pai que resiste em ver os filhos amadurecerem e buscarem outros caminhos.

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A Editora Panini divulgou uma edição zero da revista no mês passado.

A obra apresentava as mudanças dos personagens principais.

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