segunda-feira, 7 de abril de 2008

R.E.M no topo das paradas britânicas

Deve ser uma sensação terrível sentir o fantasma da insignificância rondar a sua carreira. O R.E.M., uma das maiores bandas dos anos 90, vinha sendo visitado noite após noite pelo espectro da irrelevância e as coisas só pioraram depois daquele disco insosso de 2004, Around the Sun.

Mas aí alguma coisa aconteceu. E o trio Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills, que vinha pescando no volante, prestes a capotar na curva, despertou com tudo e pôs a máquina para roncar no rumo certo. Não é à toa que o disco novo, seu 14º, se chama Accelerate.

É um discão, exalando vigor, entusiasmo e boas idéias, fruto de uma interação entre o trio que não rolava há anos, segundo já disse o próprio Stipe. É rock'n'roll com guitarras altas em primeiro plano, bastante sujeira e nada do lustra-móveis pop que vinha deixando seu trabalho bonitinho e ordinário.

Faixas como "Supernatural Superserious", "Living Well Is The Best Revenge" e "I'm Gonna DJ" ("eu vou tocar como DJ no fim do mundo"; não, não é um flerte com música eletrônica, ainda bem) pegam na veia e fazem a gente entender porque o R.E.M. era tão empolgante, tanto nos seus tempos indie, de discos como Murmur e Life's Rich Pageant, quanto no seu auge de vendas, época de Automatic For The People e Out Of Time.

Michael Stipe, 2008
Michael Stipe, 2008
Pela roupagem básica e o clima despojado, Accelerate, como um todo, tem mais a ver com o remoto passado indie da banda do que com seus discos cheios de hits dos anos 90. Quando reduz a marcha, em números como "Sing for the Submarine" e "Until the Day Is Done", o que ouvimos não é a tristeza bonita, embora melosa, de um "Everybody Hurts", mas climas tensos e dramas discretos.

IN NATURA
Certamente a produção de Jacknife Lee (com Kasabian, U2, Snow Patrol e Dloc Party na ficha) tem muita responsabilidade nessa guinada estética. Mas Jacknife Lee não inventou nem arrumou nada aqui. Ele fez o que qualquer produtor de rock de bom senso faria com talentos desse quilate no estúdio: pegou e disse "sejam vocês mesmos, aquilo que as pessoas tanto gostavam em vocês e que se perdeu."

Não é um disco que vai mudar o rock (algum disco hoje consegue "mudar o rock"?) ou apresentar inovação e talvez nem seja dos melhores do ano. Mas é o melhor disco que uma banda que saiu do indie dos anos 80 para ocupar estádios nos 90, uma banda que foi da rádio alternativa ao comercial de desodorante, cheia de opiniões políticas e amigos em altas rodas, podia lançar nos tempos de hoje. Ouviu, U2?

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