sexta-feira, 18 de abril de 2008

Madonna se perde em modernidade artificial de "Hard Candy"

TINO MONETTI
Colaboração para a Folha Online

No próximo dia 28 de abril, a pop star Madonna, 49, lança o décimo primeiro álbum de sua carreira, "Hard Candy". O novo disco --último da cantora norte-americana pela Warner Music-- traz a participação especial de figuras conhecidas do universo hip hop como Pharrell Williams, Justin Timberlake e Timbaland.

Divulgação
Madonna lança "Hard Candy", décimo primeiro disco de sua carreira, no próximo dia 28
Cantora Madonna lança "Hard Candy", 11º disco de sua carreira, no próximo dia 28

Cheio de contrastes e de contradições --no trabalho completo e não em cada faixa, como havia proferido a cantora--, "Hard Candy" surpreende ao princípio pela frescura, mas decai ao longo de sua execução e não chega, nem de perto, a ser uma obra genial.

Se, por momentos, "Madgesty" --apelido de Madonna que brinca com sua "realeza"-- parece se divertir como uma adolescente feliz em um bar futurista no oriente nas férias, por outros parece uma cantora repetitiva e perdida, andando por becos escuros e artificiais de uma metrópole luxuosa como Londres ou Nova York.

O álbum, que em diversos trechos remete a outras fases e músicas da cantora (seja em sonoridades, letras ou estilos), peca pela vontade desesperada de inovar. A impressão é a de que, apesar de Madonna nunca ter feito algo ao menos parecido com "Hard Candy", muitos outros artistas --até mesmo o próprio convidado Justin Timberlake-- já usaram e abusaram de certas fórmulas exploradas no disco.

No entanto, vale esclarecer que esta "decepção" que o álbum pode trazer, se deve exclusivamente ao fato de que é um lançamento de Madonna sendo analisado, já que, quando se trata da cantora, o mínimo que se espera é vanguarda absoluta e uma artista à frente de seu tempo.

A idéia geral é que, para criar "Hard Candy", Madonna se reapropriou de tudo que conhece, gosta e anda em voga no universo pop de hoje, de batidas sexy a vocais pegajosos, passando por metáforas de poder e muitas, mas muitas, referências à si mesma.

Trocando em miúdos, sem querer copiar ninguém e não parecer repetitiva, Madonna se perdeu em meio aos tantos conceitos "modernos" e artificiais que quer apresentar em "Hard Candy" e parece que, desta vez, não conseguiu elevar um disco seu ao status de arte.

A seguir, confira a análise completa do novo álbum de Madonna, faixa a faixa.

1. "Candy Shop"

Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes

O novo trabalho de Madonna abre com "Candy Shop", canção que, além de explicar a temática adocicada do álbum, também já convida os ouvintes ao ritmo dançante que será explorado em todo o disco.

2. "4 Minutes"

Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, com vocais adicionais de Justin Timberlake

No hino do CD, que já tem vídeo disponível no YouTube, a cantora volta a abordar a questão do tempo, como em "Hung Up", primeira música de trabalho de "Confessions On The Dancefloor".

3. "Give It 2 Me"

Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes

Grande destaque de "Hard Candy" e talvez a melhor faixa do disco --não por acaso Madonna veste um cinturão na capa do CD com o nome da música--, a canção bem dançante é cheia de efeitos sonoros. Lembra, ainda que de forma distante, Gogol Bordello, banda "adotada" por Madonna desde os shows do Live Earth.

4. "Heartbeat"

Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes

A música, que poderia ser classificada como "hip hópera", aposta em agudos da cantora e em um ritmo que remete aos anos 80, porém, de com aura metafórica. Poderia ser uma música de Kylie Minogue, cheia de rimas fáceis e gostosas.

5. "Miles Away"

Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland

Uma das músicas mais insossas do álbum, "Miles Away", que possivelmente fala da relação da diva com seu marido Guy Ritchie quando viviam em continentes separados, é repetitiva, mas ganha pela batida, ideal para reuniões entre amigos em casa.

6. "She's Not Me"

Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes

Forma poética de Madonna dizer "depois de mim, ninguém". A música, que fala sobre a substituição da cantora por outra mulher, tem rap forte, elementos do groove e uma collage de estilos. No final, parece que o tema remixa a si mesmo.

7. "Incredible"

Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes

A faixa, que começa com sons que lembram o de uma cobra cascavel, é a mais adolescente e uma das mais fracas de "Hard Candy". Com sonoridades que remetem ao reggaton, a música termina com uma Madonna em cólera e confusa, bradando que "precisa pensar sobre isso"...

8. "Beat Goes On"

Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes

Uma surpresa para quem já tinha ouvido esta faixa na época em que vazou, no final do ano passado. Com outros arranjos e mais "evoluída", a faixa funciona, surpreende e faz dançar. Ponto para Madonna.

9. "Dance 2night"

Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, com vocais adicionais de Justin Timberlake

Faixa perfeita para dançar sorrindo, "Dance 2night" é um dos pontos altos do álbum. Muito dançante, a música volta a explorar a filosofia de que "music makes the people come together" ("música faz as pessoas ficarem juntas"), iniciada no álbum e na faixa "Music", de 2000.

10. "Spanish Lessons"

Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes

Uma das faixas mais esperadas pelos fãs hispânicos da cantora, "Spanish Lessons" decepciona de cara e peca do começo ao fim. Literalmente uma aula de espanhol em áudio, a canção, ainda que com um ritmo quente e tipicamente latino, escorrega no excesso de gemidos de Madonna e na chatice da letra.

11. "Devil Wouldn't Recognize You"

Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, co-produzida por Nate "Danja" Hills, com vocais adicionais de Justin Timberlake

Música cult e "gangsta" do álbum. Obscura e satírica, a faixa, que traz sons de chuva no meio de suas batidas, oferece uma atmosfera "religiosa", porém, sem pregar ensinamentos. O violão dedilhado do final ganha pela surpresa.

12. "Voices"

Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Nate "Danja" Hills, co-produzida por Timbaland, com vocais adicionais de Justin Timberlake.

"Hard Candy" termina com Justin Timberlake perguntando: "Who's the master and who's the slave?" (na tradução livre, "quem é o mestre e quem é o escravo?"). A faixa, que poderia ser trilha de Gotham City, fictícia cidade de Batman, analisa a questão do poder e das estruturas, tão presente na carreira de Madonna

Na busca por inovar, Madonna é a "material girl" de sempre

BRUNO PORTO
colaboração para a Folha de S.Paulo

Em entrevista publicada no último dia 11 na Ilustrada, Madonna declarou que hoje, 25 anos após o disco de estréia, sua música está mais complexa. "Minhas canções atuais têm mais senso de ironia ou contradição que no passado", disse. Não é o que mostra "Hard Candy" (Warner), seu mais recente CD, que chega ao Brasil no dia 28.

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Capa de "Hard Candy", 11º álbum da carreira de Madonna, foi divulgada hoje (14)
Capa de "Hard Candy", 11º álbum da carreira de Madonna, que diz estar mais complexa

O disco traz a "material girl" de sempre. Ou seja, é mais uma coleção competente de faixas dançantes. E só. Nem menos nem mais que isso. Quem acha Madonna uma deusa continuará pensando assim. Quem discorda não vai mudar de idéia. Para tentar reciclar seu público e se manter em dia com o que há de novo no pop, de tempos em tempos Madonna faz parcerias com artistas em alta entre os jovens. Em 1998, por exemplo, chamou William Orbit para produzir "Ray of Light". "Music" (2000) foi produzido também por Orbit e pelo francês Mirwais. Há alguns anos, tentou se aproximar de Eminem, que a teria esnobado.

Ela volta a recorrer a esse artifício em "Hard Candy": Timbaland e Pharrell Williams produziram o disco, que tem vocais do popstar Justin Timberlake.

Timbaland e Williams estão entre os produtores mais requisitados dos EUA. O primeiro já trabalhou com a nata do hip hop (Missy Elliott, Jay-Z); o segundo é a alma por trás de "Justified", CD que fez de Timberlake um astro respeitado pela crítica. A soma desses talentos, porém, não torna "Hard Candy" um CD excelente. Em algumas faixas, a química não funciona. É o caso de "She's Not Me", "Incredible" e "Beat Goes on", as três produzidas por Williams. O americano exagerou na dose de batidas mirabolantes e barulhinhos, deixando as faixas sem unidade, sem cara.

Williams também errou ao homenagear os anos 80 nas três músicas, abusando dos sintetizadores. Em outros momentos, os produtores acertam, e Madonna erra. "4 Minutes" é um exemplo. Os vocais mal dizem a que vieram. Timberlake canta nessa e em "Dance 2night", "Devil Wouldn't Recognize You" e "Voices", mas suas participações são discretas demais. Se o CD fosse um filme, não seria errado dizer que ele faz uma ponta.

Algumas faixas, porém, compensam os tropeços. A de abertura, "Candy Shop", com seus beats meio afro, é um dos pontos altos. Remete aos bons momentos de Missy Elliott. "Spanish Lessons" -uma aula de espanhol, literalmente- vai pelo mesmo caminho, com potencial para incendiar pistas. A quase balada "Miles Aways", mais íntima, é outro acerto. Pegando carona na moda, Madonna flerta com o funk carioca na monótona "Give It 2 Me".

As letras são fracas, como sempre. A maioria mescla feminismo de botequim com pitadas de hedonismo. "She's Not Me" ("Ela tenta ser/ Mas ela não sou eu") parece recado às aspirantes a Madonna, que faz 50 anos em agosto. Mas "Hard Candy" garante sobrevida ao mito, que segue nota dez em marketing e cinco em música.

Hard Candy
Artista: Madonna
Gravadora: Warner
Quanto: R$ 39,90 (lançamento previsto para 28/4)
Avaliação: bom

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