terça-feira, 1 de abril de 2008

Moby só quer saber de festa

Moby só quer saber de festa
Ele ainda é aquele cara todo certinho, de opiniões, mas bebe até cair em festas e volta aos pianos ravers em seu novo álbum
Ele já abriu uma casa de chá, já quase apanhou de fãs do Eminem e é testemunha ocular e opinante dos rumos políticos internos e externos do que acontece no seu país, os Estados Unidos. Sua música reflete tal austeridade de forma intensa e atmosférica, mas o outro lado disso é que o Moby, para muita gente, é um grande dum chato. Isso adquiriu proporções exageradas até, quando se pensa no aspecto mala de um vegetariano, Moby é a primeira pessoa que se vem à cabeça.

Tal idéia intensificou-se na época de 18 (2002), álbum melancólico em que Moby refletiu em concepções espaciais a tristeza pós-11/set (justamente a data de aniversário dele!). Aí veio o fraco Hotel (2005), em que um vazio criativo o fez cantar num pop dançante o cotidiano de hotéis, e você tem o típico produtor carregado de polêmicas e fofocas pessoais, que musicalmente não é unanimidade, mas tem o seu valor. Afinal, ele tem no currículo o majestoso Play (1999).

2007
2007
+ IDADE = + FESTA
Richard Melvile Hall beira os 43 anos lançando seu nono álbum, o animado e convincente Last Night, em que, segundo suas próprias palavras, ele tenta resumir em uma hora todo o clima de uma noitada anima. Essa festa é ilustrada no CD em um mix de house raver dos anos 90, hip hop e disco old skool fundidas em híbridos inclassificáveis com um final de chill out existencialista.

A "volta" de Moby às pistas é reflexo de um retorno dedicado às picapes, tendo ele revivido seus primórdios oitentistas e tocado bastante, principalmente em Nova York, sua amada terra natal.

Sucinto e prolixo demais - nem um leve puxa-saquismo de começo de entrevista ajudou a quebrar o clima "profissional" de um papo tenso mediado pela gravadoras -, Moby falou ao rraurl.com por pouco menos de 20 minutos em pleno sábado a noite, véspera de lançamento de Last Night.

Eu li no seu blog que você prometeu drogas, dinheiro e prostitutas para quem resenhar bem seu disco novo. Queria saber como recebo meus prêmios, já que seu disco novo é bem legal.

(risos) Interessante, vou cuidar para que a gravadora envie tudo pra você.

Na verdade eu queria falar sobre críticas. Como você lida com elas, quais são suas expectativas sempre que você lança algo...

Bem, é um tópico difícil pra mim. Eu faço discos há quase 20 anos, e durante esse tempo por vezes gostaram de mim, outras vezes não gostaram, então eu não sei o que esperar. É estranho.

E o grande problema pra mim é que aqui nos Estados Unidos as pessoas sempre resenham o Moby, a pessoa, e não minha música.

Como você definiria a imagem que a mídia construiu de você?

Hmm, para muitos eu sou um cara sério - o que é estranho, porque eu saio pra caramba, bebo muito. E acho que pensam que sou alguém muito religioso, ou politicamente correto.

Last Night é bem dançante. É uma volta às suas origens ou um resumo do que você é na essência como músico?

É difícil falar, porque se eu for analisar minha essência como músico, eu cresci com formação clássica, fui DJ de hip hop e house por muito tempo. Eu acho que esse meu último disco é o mais honesto, porque tem muito do que eu ouço e do que eu sempre gostei.

Seria talvez seu disco mais "underground"? O que é underground pra você?

Acho que underground é música diferente, feita pra gente diferente. Mas hoje isso significa outra coisa: é algo que pouca gente ouve e ainda não foi parar na rádio, basicamente.

Não sei se isso dá algum valor extra, mas com certeza não é a mesma idéia de underground que vem lá de trás, da época do punk rock.

Moby, nos anos 80, quando era DJ
Moby, nos anos 80, quando era DJ
Essa busca pelas suas origens dançantes é sinônimo de um cansaço com a música eletrônica mais atual, produzida hoje?

Não, eu gosto muito da música de hoje, o que acontece é eu conheço muito dos DJs que tocam nas festas em que vou, e sempre rola uma nostalgia nas seleções. Gosto bastante do minimal de Berlim, de electro bem pesado, mas não é o tipo de música que eu vou ouvir quando chegar em casa.

Qual é sua freqüência de festas e saídas noturnas? A idade já está pesando nesse sentido?

Eu saio bastante, o suficiente para às vezes me preocupar em aprender a ficar em casa. O problema é que na vizinhança onde eu moro - Lower East Side - é cheia de lugares legais, bares, clubes... Então fica difícil controlar.

Você é uma figura conhecida. As pessoas por aí te apontam na rua, nas festas, tipo "Olha, o Moby!"?

Sim, de vez em quando, mas eu acho normal. Eu saio há muito tempo já e conheço muita gente, é natural.

Bem, como estamos falando de noite e festas, eu tenho que perguntar: qual sua relação com as drogas?

Eu amo as drogas! (risos) Claro que eu tento me afastar porque elas são destrutivas, mas eu gosto bastante. Na verdade eu prefiro beber, é mais fácil, mas todo mundo sabe que as drogas são divertidas.

E a vida noturna de Nova York? O clima ruim da época Rudy Giuliani já passou?

Sim, tudo mudou, a cidade está mais divertida, novos lugares estão surgindo o tempo todo. Não é a mesma loucura de antigamente, mas está melhor.

2005, show em SP
2005, show em SP
Você foi rotulado como um músico triste, nerd esquisito de música eletrônica, principalmente por sua relação intensa com os acontecimentos do 11/set. Essa paranóia já passou?

O 11 de setembro foi algo horrível, era um pesadelo viver em Nova York naqueles tempo mas já passou, afinal, são 7 anos já. As pessoas mudaram, não há mais paranóia.

Os nova-iorquinos são legais e ocupados demais para ficarem presos nessa paranóia.

E as eleições desse ano, com a hipótese de Hillary ou Obama ganharam inspirados pelo clima de esperança e renovação? Isso tudo mudou de fato a cabeça das pessoas na cidade e no comportamento do nightlife daí?

Sim, a melhor coisa disso tudo é que os americanos parecem ter acordado, perceberam que é hora de uma mudança de fato. E aqui em Nova York isso é algo que já acontecia há mais tempo, somos uma cidade muito liberal.

Eu quero que Obama seja presidente.

E a Hillary? Não seria mais simbólico para tanta mudança uma presidente mulher?

Não, não penso nesses termos. Obama como pessoa seria um ótimo presidente.

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