sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O filme em que a platéia toda sai perturbada



“Sinédoque, Nova York”
- o filme em que o roteirista Charlie Kaufman - "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" (2004), de Michel Gondry, "Adaptação" (2002) e "Quero ser John Malkovich" (1999) - estréia na direção foi exibido ontem na Mostra de São Paulo, em uma sala lotada. Os ingressos haviam se esgotado horas antes da sessão.

Charlie Kaufman virou um gênero em si
De difícil compreensão, “Sinédoque, Nova York” não tem silêncios. É feito de uma quantidade sem fim de diálogos e locações. Não há freios para o roteirista, agora também diretor, e isso pode ser um problema.

Dessa vez, com Phillip Seymour Hoffman na pele de um perturbado diretor de teatro que se complica existencial e afetivamente durante a preparação de uma produção monumental, com centenas de atores e sets, incluindo aí uma réplica de Nova York. A peça levará absurdos 17 anos para ficar pronta. O texto: A Morte do caixeiro viajante, de Arthur Miller, que se prestará a filosofar sobre rotina, dia-a-dia, solidão, morte e o vazio da vida.

Paralela a essa história, em sua vida pessoal, o diretor, Caden Cotard, descobre ter sicose - uma doença de pele, que, como o personagem bem coloca para a sua filha, “para virar psicose basta apenas uma letra”. Não demora para Caden achar que vai morrer logo.



“Uma complicada realidade alternativa perfeitamente consistente”
Work in progress, em seu processo criativo sem fim, o diretor acaba incorporando seu drama pessoal ao enredo da peça que está montando e aí começa a grande confusão que o roteirista é mestre: realidade e ficção se confundem, enredo e elenco se fundem com a vida do diretor. Todos entram em seu ciclo de morte.

Zero ação
Não à toa, a saga já se anuncia em seu título, ‘sinédoque’ é um tipo de metonímia em que a parte substitui o todo e o gênero toma o lugar da espécie. Paranóia, medo, ansiedade, vício em medicamentos - existe uma gestação de loucos vivendo suas verdades, o sinal dos tempos, um Blindness de neuróticos, e não há nada que se possa fazer por isso.

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