sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Livro: Como o mundo virou gay?



OVER THE RAINBOW
André Fischer
, um dos maiores divulgadores e ativistas brasileiros em defesa dos direitos e da cultura LGBT, curador do Festival de Cinema Mix Brasil de Diversidade Sexual, lança o livro “Como o mundo virou gay? – Crônicas sobre a nova ordem sexual” (Ed. Ediouro) e comenta aqui nesse Repique as transformações assistidas e vividas em uma década de causos e causas.

André, conta um pouco sobre o seu livro.
O livro dá uma situada no que aconteceu no mundo nos últimos anos, na última década, a partir de uma maior visibilidade dos gays, da forma como os gays se colocam no mundo e como o mundo os enxerga.
Os textos foram escritos nesse período, desde 1996. É um retrato de cada momento. Tem o calor de vida sendo experimentada. Experiências vistas e vividas e relatos de pessoas muito próximas. Não é um tratado. Tem partes que são explicitamente um diário pessoal e outras que são mais jornalísticas.

Diário pessoal?
A parte diário, em 1ª pessoa, fala das minhas viagens. Tive a oportunidade de viajar e ver a comunidade gay local de mais de 40 países, algumas viagens fiz em função do festival de cinema (Mix Brasil) ou para fazer matérias jornalísticas para revistas de turismo gay outras foram viagens pessoais.

Que lugares você visitou?
De São Francisco - a quintessência de uma cidade gay simpatizante - até Katmandu - em que tudo acontece literalmente nos subterrâneos da cidade, onde tem ponto de encontro de transexuais menores de idade, todos vestidos de sari. Só vendo. Existe vida gay nos lugares onde há a maior repressão. Todos esses locais se transformaram.
Por mais que o presidente do Irã diga que lá não há um homossexual sequer, se eu fosse para lá, provavelmente encontraria uma cena.

Das viagens que fez, em que lugar que você foi e voltou posteriormente você observou maiores transformações?
África do Sul. Fui para lá logo depois do Apartheid e depois voltei há um tempinho, uma diferença de seis anos. Pude ver o florescimento da presença gay numa cidade como Capetown nesse tempo.
Da primeira vez tive que buscar encontrar a cena gay, quando voltei era outra coisa, estava completamente na cara. Não era mais uma coisa de gueto.

E vem cá, por que seu livro presume que o mundo virou gay?
É uma brincadeira, basicamente de heterossexuais, para brincar com essa percepção mainstream de que o mundo está mais gay. O livro foi encomendado e o pedido era que não fosse dirigido para o público gay. Sempre escrevi sabendo que me dirijo ao público gay – que tenho um espaço importante, mas não só, sabia que também seria lido pelo público não gay.
O ponto de interrogação foi uma coisa de última hora da editora. O livro chamaria “Como o mundo virou gay” ponto.

E o que mudou no mundo esses últimos 10 anos?
Primeiro a visibilidade do gays. Antes você era obrigado a se esconder. Depois, como o mundo vê os gays - deixou de ser um estereótipo, foram assimiladas várias formas de ser gay. E terceiro, a incorporação dessa questão e cultura, do mundo ser mais gay mesmo – o homem mudou, a revolução sexual gay... Hoje é mais difícil bater o olho e ver quem é hétero e quem é gay – não porque o mundo está mais hétero, mas porque o mundo está mais gay. Todo mundo foi relaxando e podendo assimilar um monte de coisa bacana e positiva que existe nessa cultura. É um processo que estamos vivendo.

E no Brasil, o que mudou?
O ganho de visibilidade foi radical. Era uma coisa mantida embaixo do cobertor e de repente teve um “destape” como bem dizem os espanhóis. Foi muito rápido como em nenhum outro lugar. São Paulo foi uma das últimas grandes cidades do Ocidente a ter Parada Gay, Buenos Aires já tinha há dez anos, Lima no Peru tinha, no México... Em seis anos, saímos do maior atraso para a maior parada gay do mundo.

O processo foi muito rápido mas não foi acompanhado de ganho de direitos civis. Existe um descompasso. Em Portugal, onde não há parada gay, nem a visibilidade que tem aqui, já tem casamento civil e agora já estão tratando de adoção, fala-se abertamente no ‘Jornal Nacional’ de lá. Não se trata de uma “causa gay”, é uma questão de direitos civis.

E aproveitando o fim-de-semana de eleições, existe alguma cidade brasileira preparada para ter um prefeito ou prefeita gay?
São Paulo? Essa polêmica que houve entre o Kassab e a Marta foi um dos fatos mais interessantes de todos os tempos porque ganhou manchete no país inteiro e houve um consenso em todos os editoriais de imprensa de como é um absurdo questionar a capacidade de administrar uma cidade em função da opção sexual. Pegou tão mal que acabou criando um consenso de que essa questão não é importante.
Isso preparou a sociedade brasileira para um político bem resolvido no foro íntimo assumir sua orientação sexual publicamente. Essa polêmica abriu as portas do armário

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