quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Vila Madalena vai à Bienal de Veneza

Dois edifícios "otimistas", concebidos para o bairro paulistano, são exibidos pelo escritório franco-brasileiro Triptyque

Projetos fazem parte da representação francesa na Itália; presença brasileira, reduzida, tem pavilhão intitulado "Não-Arquiteto"


Divulgação
Prédio do Triptyque situado na rua Fidalga, que deve estar pronto no final do ano que vem

Uma arquitetura otimista, generosa com a cidade e preocupada com as questões ambientais. Assim pode ser resumida a participação do escritório franco-brasileiro Triptyque na 11ª Bienal de Arquitetura de Veneza, que é oficialmente aberta para o público no domingo, mas já tem seus primeiros espaços inaugurados hoje.
A mais prestigiada mostra de arquitetura em âmbito mundial tem reduzida presença brasileira: além do Triptyque, que faz parte da representação nacional da França e apresenta dois projetos concebidos para a Vila Madalena, em São Paulo, há o pavilhão do Brasil, intitulado provocativamente "Não-Arquiteto" e com curadoria de Roberto Loeb, a ser aberto para convidados hoje.
Entre as estrelas do evento, que tem curadoria do norte-americano Aaron Betsky, estão Frank Gehry e Zaha Hadid (leia mais ao lado).
O primeiro projeto do Triptyque que será exibido é o edifício Harmonia 57, finalizado neste ano (foto na capa desta edição). De pequenas proporções, ainda é um corpo estranho no bairro paulistano: seu térreo é aberto e, unido à rua, forma uma pequena praça.
O centro da construção é um emaranhado de tubos por onde passa água reutilizada, que irriga as plantas espalhadas pelas fachadas do prédio e, em intervalos determinados, é borrifada no ambiente da praça.
"Existe um cuidado evidente com a sustentabilidade, mas não é o principal objetivo do projeto", afirma o francês Guillaume Sibaud, 35, um dos quatro sócios do escritório binacional -a sede fica no Jardim América, em São Paulo, mas há uma filial parisiense.
A preocupação central do grupo é a obra em progresso. "Vejo o Harmonia como um objeto inacabado, que pode evoluir. É algo vivo e despretensioso", avalia a paulistana Carolina Bueno, 33, a única sócia brasileira do Triptyque.
Ela, Sibaud e os franceses Gregory Bousquet, 35, e Olivier Raffaëlli, 35, fundaram há sete anos o escritório, que reúne 20 profissionais nas duas cidades. "É a cara da arquitetura transnacional de hoje, com brasileiros, franceses e gente da Holanda, de Portugal, da Áustria", diz.

Colagem
O segundo projeto do Triptyque a ser mostrado em Veneza é um prédio residencial na rua Fidalga (veja ao lado), também de conceito pouco ortodoxo e que tem seu término previsto para o final do ano que vem.
"Considero o prédio da Fidalga como uma colagem, onde o que interessa mais é o processo, e não o projeto acabado", diz Sibaud. "O verde é central na construção, e os apartamentos são variados: podem ser dúplex, ter suítes ou suas dimensões serem menores", conta o arquiteto. "Assim como no Harmonia, o bem-estar é fundamental. Por isso, é um projeto otimista, de acordo com a curadoria francesa da Bienal."
O pavilhão francês elegeu como tema o otimismo e tem curadoria do coletivo French Touch. Recentemente o grupo lançou manifesto por uma renovação da arquitetura no país, que prega uma atividade mais leve, menos dependente de escolas e em consonância com questões contemporâneas, como o respeito ao ambiente.

Prêmio para jovens
O Triptyque chamou a atenção do meio arquitetônico francês ao receber o Naja 2008, tradicional prêmio dado pelo Ministério da Cultura francês a jovens arquitetos e escritórios. A última edição teve 14 contemplados em arquitetura e cinco em paisagismo.
No pavilhão francês, eles são os únicos a terem ganho o Naja neste ano. O prêmio também inclui a participação em uma mostra coletiva, que terá início em Paris em outubro e marcará a inauguração da Cidade da Arquitetura, grande espaço dedicado exclusivamente à área, situado na região do Trocadero.
"Mas fazemos uma arquitetura paulistana", diz Sibaud. "Escolhemos São Paulo como sede do escritório para que pudéssemos desenvolver nossas idéias com soluções encontradas por aqui. O Harmonia, por exemplo, usa essa disposição paulistana do terreno tão característica, estreito em sua largura e com grande profundidade. A praça que surgiu no térreo é uma abertura para a cidade", acredita.

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