segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Estréia da nova turnê de Madonna, que vai passar pelo Brasil em dezembro: não há show mais pirotécnico no mundo

Madonna quer provar muitas coisas com um sua nova turnê (Sticky & sweet, "Grudento e doce", em português), iniciada na noite de sábado com show para 40 mil pessoas no Millenium Stadium, em Cardiff, no País de Gales. Quer provar que ninguém pode superá-la na hora de unir som, imagem e pirotecnias no palco; que ainda tem a capacidade de reinventar sua própria música; que está ligada nas novas gerações pop, "convidando" (via telão) artistas como Britney Spears, Kanye West e Justin Timberlake para dividir o palco; que tem estofo para fazer comentários políticos, apoiando abertamente o candidato democrata à presidência dos EUA, Barack Obama. E, acima de tudo, provar que, aos 50 anos (completos no último dia 16), ainda tem fôlego físico e mental para agüentar mais de duas horas no palco, em um espetáculo monumental. Não à toa, referências à passagem do tempo, como imagens de relógios, pipocam nos telões aqui e ali ao longo do show. Os brasileiros ansiosos para conferir a presença da estrela ao vivo acabam de ganhar mais uma oportunidade: Madonna vai fazer uma terceira apresentação no Estádio do Morumbi, em São Paulo, no dia 20 de dezembro, a somar-se às duas datas já anunciadas (Rio, dia 14 de dezembro, no Maracanã, e na capital paulista, dia 18).

– Faremos um show extra por causa da grande procura de ingressos – confirma Liz Rosemberg, assessora particular e porta-voz oficial da cantora há 25 anos. Cerca de 160 mil brasileiros ja se cadastraram pela internet para comprar os ingressos (110 mil para São Paulo, 50 mil no Rio), à venda a partir de 1º de setembro.

Pernas da cantora impressionam

Mas já havia brasileiros vendo a estréia do show. Os estudantes baianos radicados em Londres Marcelo Rios, Leonardo Carvalho e Roberta Cruz estavam na pista do Millenium Stadium, devidamente armados com a bandeira verde e amarela.

– Madonna está ótima, muito em forma. Mas não pareceu muito simpática; nem agradeceu ao público – diz Rios, que pagou 200 libras (R$ 603) pelo ingresso na golden area, o equivalente local à pista vip brasileira. – Esse ingresso foi posto à venda por 130 libras, depois aumentaram o preço. Fui roubado pela Ticketmaster!

A primeira coisa que os brasileiros verão no palco são duas gigantescas letras M cor-de-rosa nas laterais. No centro, um grande cubo, que se desmonta em vários telões de vídeo, assim que o show começa. Madonna entra em cena vestida com um corpete preto, botas longas também pretas e um cetro… Nada mais natural para quem surge sentada num trono. Logo após o número de abertura, Candy shop, ela faz a primeira de poucas saudações ao público ("Muito bem, Cardiff!") e emenda em The beat goes on, que conta com a participação (nos telões) dos rappers Pharrell e Kanye West. As pernas musculosas e ágeis da cantora, que dança acompanhada de vários bailarinos vestidos de fraque, só não impressionam mais que a presença de um antigo conversível branco, que anda de verdade e chega bem perto do público.

De cartola branca e empunhando uma guitarra Gibson Les Paul preta, Madonna injeta rock em Human nature (de 1994), e agora é Britney Spears quem surge nos telões. Para Vogue, sobe numa plataforma e dança com quatro bailarinas. É a hora do primeiro intervalo: a cantora some e aparece no telão numa versão bem diferente de Die another day, enquanto no palco acontece uma luta de boxe (com ringue e tudo). Vestindo um short vermelho e uma blusa colante preta, Madonna volta pulando corda enquanto canta o antigo hit Into the groove. É o bloco dedicado aos anos 80, com direito a imagens do artista plástico nova-iorquino Keith Haring nas telas de vídeo e um batalhão de dançarinos de break.

Mais um intervalo – uma versão de Here comes the rain again, dos Eurythimcs, com a presença de dois dançarinos – e, na penumbra, Madonna canta Devil wouldn’t recognize you, vestida com um longo manto preto sobre um piano. Ela tira o manto, revela outro vestido por baixo e dança com monges estilizados em Spanish lesson. Empunha um violão para uma energética Miles away, quando conclama o povo a bater palmas. Em seguida, vem La isla bonita (que vira um batidão latino digno de Shakira, com violinos e violões de influência ibérica). Aí dá uma colher de chá para o cantor Alexander Kolpakov, que interpreta a canção tradicional romena Doli doli. A canja antecede o momento intimista do show, quando Madonna saca (do repertório do musical Evita) a balada You must love me, de novo ao violão.

Obama no telão

O ultradançante interlúdio Get stupid quebra o clima. Imagens de mazelas do mundo surgem nas telas, intercaladas com figuras de John Lennon e Michael Moore. No auge da sinestesia eletrônica, Barack Obama encerra o rodízio de imagens e é muito aplaudido. 4 minutes, o grande sucesso do último CD Hard candy, prenuncia o dançante bloco final. Quatro telões reproduzindo a imagem de Justin Timberlake "dançam" com a cantora. Ray of light inunda o ginásio com rajadas de laser multicolorido, enquanto a estrela toca mais um pouco de guitarra. Ela provoca o público ("Querem que eu cante mais o quê? Sou eu quem manda aqui!", antes de mandar, a capela, um pedacinho de Express yourself). E encerra com Give it to me, o mais recente clipe.

Musicalmente, Madonna esbanja esperteza. Apela para o rock – a velha Borderline vira rockão arena e ela arranca microfonias da guitarra em Hung up. Mostra que saca de mash-ups, ao se auto-samplear e misturar sucessos novos e velhos. E capricha nas batidas eletrônicas, que transformam Like a prayer e La isla bonita. Fica claro que, ao vivo, ela não canta (quase) nada: um playback de sua própria voz a acompanha em todas as músicas e quando ela tenta sair do roteiro, arrisca a desafinar, como em Borderline e Into the groove. Não importa. A voz ali é uma porção mínima da overdose sensorial que Sticky & sweet aplica no público, uma catarata de som, luz, coreografia e imagens que só peca por parecer pré-programada demais. Não é à toa que o show se encerra com a mensagem Game over nos telões – como num videogame.

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