segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

HIV: resposta inicial do corpo conteria chave para vacina

A resposta inicial do organismo à contaminação pelo HIV pode conter as respostas de que cientistas precisam para desenvolver uma vacina contra o vírus causador da aids, disse na segunda a cientista Françoise Barre-Sinoussi, premiada com o Nobel.

A epidemia de Aids já matou cerca de 25 milhões de pessoas em todo o mundo, e mais ou menos 33 milhões hoje estão contaminadas com o vírus. Coquetéis de medicamentos podem controlar o vírus, mas até agora não existe cura.

Françoise Barre-Sinoussi, que dividiu o Nobel de Medicina de 2008 com Luc Montaignier pela descoberta do HIV, um quarto de século atrás, disse em um evento do Dia Mundial de Combate à Aids que o corpo humano apresenta uma reação muito característica - e rápida - à contaminação pelo HIV.

As respostas celulares quase imediatas verificadas no intestino e outras partes do corpo podem indicar aos cientistas o caminho para uma vacina que impeça o HIV de se instalar e transformar-se numa doença que destrói as defesas imunológicas, disse a cientista francesa. "Tudo é decidido em pouco tempo após a exposição ao vírus. Quando digo pouco tempo, quero dizer que é uma questão de dias", disse ela em discurso perante a Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Se conhecermos melhor os eventos primeiros da infecção aguda, poderemos pensar em desenvolver uma estratégia de vacina melhor", disse ela, avisando: "Se não avançarmos nesse conhecimento básico, jamais teremos uma vacina".

Esforços recentes para desenvolver uma vacina que ative as células do sistema imunológico que enfrentam o vírus - como a tentativa feita no ano passado pela Merck - têm dado resultados decepcionantes. Barre-Sinoussi disse que vacinas "convencionais" não serão suficientes para enfrentar o HIV, que é um retrovírus, ou seja, copia pedaços de seu código genético no DNA de seu anfitrião.

"Precisamos considerar a abordagem convencional em conjunto com outra abordagem que leve em conta os sinais patogênicos", disse ela. "Precisamos compreender melhor o papel da genética". A especialista do Instituto Pasteur também pediu mais pesquisas sobre co-infecções entre HIV e turberculose, além de rebater as críticas segundo as quais bilhões de dólares foram canalizados para projetos relacionados à aids, drenando recursos necessários para o combate de outras doenças.

"Fico surpresa ao constatar uma oposição entre o combate ao HIV e outras questões de saúde primárias. É um erro total", disse ela. "Não entendo por que essas pessoas não podem colaborar."

O genoma de um lêmure, um primata do tamanho de um esquilo que vive apenas em Madagascar, pode ajudar os cientistas a compreender como os vírus como o da aids evoluíram com os primatas, segundo uma pesquisa da escola de medicina da universidade americana de Stanford.

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O estudo, publicado hoje na versão na internet da Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) pode jogar uma luz sobre o motivo pelo qual os primatas não humanos não contraem aids, e levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para as pessoas.

O pesquisador Rob Glifford, autor principal do estudo, analisou o DNA de 21 espécies de primatas na busca de uma cadeia de nucleotídeos equivalente ao genoma do moderno lentivírus - uma família de vírus na qual se inclui o da imunodeficiência humana (HIV)- e encontrou-a no DNA do pequeno lêmure. Os cientistas estavam convencidos de que os lentivírus começaram a infectar os primatas há milhões de anos, inclusive há 85 milhões de anos, segundo Glifford.

Os lentivírus se reproduzem inserindo o ácido ribonucleico no DNA de uma célula, e sabe-se que alguns destes retrovírus infectaram células que se transformam em esperma ou óvulos, com o que se incorpora um DNA viral no genoma do hospedeiro. Até o ano passado, quando Glifford descobriu um lentivírus endógeno no DNA do coelho europeu, ignorava-se que os lentivírus podiam ser herdados desta forma.

Os ancestrais do lêmure moderno colonizaram Madagascar há 75 milhões de anos e, desde então, evoluíram longe de seus primos africanos portadores do lentivírus, dos quais estão separados por 400 km de mar. A última das pontes terrestres ocasionais entre ambos os lugares desapareceu sob o mar há 14 milhões de anos, o que sugere que os lentivírus têm pelo menos essa idade, segundo os pesquisadores.

No entanto, Glifford mostra cautela sobre a idade do vírus, já que adverte de que poderia ter se expandido nos últimos 14 milhões de anos através de morcegos que teriam atravessado o oceano. No entanto, outros dos pesquisadores, Robert Shafer, afirma que isto é improvável porque os morcegos e os primatas são parentes muito distantes, o que torna difícil o salto do lentivírus de um ao outro.

A descoberta de Glifford sugere que os lentivírus podem ser encontrados em outros lugares, entre os macacos asiáticos e do Novo Mundo. Encontrar uma interação estendida entre lentivírus e primatas poderia abrir as portas à investigação sobre o HIV e a aids. Os primatas que estão infectados com o vírus da imunodeficiência em símios estão protegidos da aids por vários genes codificadores de proteínas no sistema imunológico que freiam ou bloqueiam a reprodução do retrovírus.

Segundo pesquisas anteriores, estes genes evoluíram como uma resposta a milhões de anos de infecção por um retrovírus. Até agora, os cientistas achavam que os lentivírus eram jovens demais para ter desencadeado esse pulo evolutivo. No entanto, se Glifford e seus colegas acharem mais provas de que a interação entre lentivírus e primatas data de vários milhões de anos, poderiam revolucionar esta teoria.

Isto poderia dirigir uma maior compreensão da evolução do sistema imunológico contra os retrovírus e ter implicações para o tratamento ou a vacina contra a aids.

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