domingo, 6 de julho de 2008

Público embarca no humor de “Opala”, mas choca-se com final

Paulínia é o terceiro festival brasileiro pelo qual passa “Nossa Vida Não Cabe num Opala”. Em abril, no Cine Ceará, apesar da baixa qualidade da projeção, houve resposta no fim do público no fim da exibição. No Cine PE, no fim de maio, o filme faturou cinco prêmios. Já no I Festival Paulínia de Cinema, apenas as cenas de humor caricato e previsível encontrou resposta na platéia.

Estreando na direção de longas, o premiado curta-metragista Reinaldo Pinheiro traz uma atmosfera tipicamente urbana e paulistana. A história está centrada em uma família, que recentemente perdeu o pai (Paulo César Pereio). O destino não permite que eles fujam de sua história pré-determinada. Praticamente uma tragédia.

O texto original, “Nossa Vida Não Vale um Chevrolett” é do dramaturgo Mário Bortolotto, vencedor do Prêmio Shell em 2000. A adaptação, que gerou polêmica com o autor do texto original, coube a Di Moretti (“Cabra Cega”, “Latitude Zero”, “Filhas do Vento”).

A família não tem glamour. Dois irmãos vivem nas entrelinhas da lei, roubando opalas e revendendo para Gomes (Jonas Bloch), uma espécie de “rei do pedaço”. A irmã (Maria Manoela) olha para um futuro de pianista clássica, mas seu presente é de tecladista de churrascaria de terceira. O mais jovem (Gabriel Pinheiro) não sabe para onde vai.

Não são tipicamente pobres, pois a história não se situa na periferia. Também não são ricos, pois não trafegam por Jardins ou Morumbi. Estão no meio, se apegando ao mínimo que tem: uma casa (cujo dono legal é Gomes) e o resto de honra, que é testada constantemente.

Milhem Cortaz arranca risadas

O ator chamou a atenção do público de cinema pela primeira vez em “Tropa de Elite”, como o “coxinha” Fábio, policial corrupto. Em “Opala”, Milhem Cortaz interpreta Lupa, o irmão bronco e burro da família. Não tem cultura alguma, sequer lê, mas é bom em roubar carros. Até mesmo no trato com as mulheres, derrapa feio.

A seqüência em que seu personagem contracena com Silvia (Maria Luiza Mendonça), uma mulher que representa, metaforicamente, o destino cíclico da família, foi a que mais arrancou risadas da platéia. É onde o humor caricato de Milhem chega ao limite.

Outras cenas que encontraram resposta nas platéias de Ceará e Pernambuco (este, tipicamente urbano e jovem), simplesmente não aconteceram em Paulínia. As piadas com duplo sentido e de conotação pornográfica passaram em branco pelo público.

Para a platéia de uma cidade de 70 mil habitantes e conhecida, até então, como pólo petrolífero, a trilha punk anos 80, underground e urbana, não colou. Apesar da excelente qualidade da projeção, algumas pessoas taparam os ouvidos por conta do barulho de guitarras.

Tragédia

Desde a primeira cena, que mostra o pai da família sendo vestido pelos para o enterro, já dá o tom do filme: só há fracasso. Os recursos de montagem flash forward (avançar e retroceder na narrativa) também indicam o destino de personagens, especialmente na vida do irmão caçula, Slide.

50 mil expectadores

O filme estréia em agosto, ainda sem data definida. A meta da distribuidora Imovision é conseguir público entre 50 e 60 mil espectadores, número alcançado, este ano, por apenas cinco filmes nacionais: “Meu Nome Não é Johnny” (2,1 milhão), “Chega de Saudade” (180 mil), “Polaróides Urbanas” (88 mil), “Estômago” (80 mil) e “O Guerreiro Didi e a Ninja Lili” (74 mil).

Curtas de Paulínia

Esvaziamento

O I Festival Paulínia de Cinema corre o risco de esvaziar na segunda e terça-feira. Depois de uma abertura (apenas para convidados) repleta de políticos e uma primeira seção cheia, o Theatro Municipal de Paulínia deve ter pouco público nos próximos dias. A expectativa está na exibição do novo filme de José Mojica Marins (Zé do Caixão), “Encarnação do Demônio”, na quarta-feira, e na estréia de Selton Mello na direção, com “Feliz Natal”, exibido na sexta.

Documentários e curtas

Começa neste domingo a mostra competitiva de documentários e de curtas-metragens do festival. A seleção traz alguns títulos exibidos em São Paulo no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários. Entre eles, “Waldick, Sempre no Meu Coração” e “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei”. A programação completa está no site do festival.

Pauliwood

Este é o novo apelido da cidade, conhecida até 2005 pela presença da Replan (Refinaria do Planalto Paulista). Depois de Bollywood (Índia) e da Roliúde Nordestina (CIDADE), Paulínia começa a entrar no calendário do cinema nacional com a implantação do pólo cinematográfico. Tanto na exibição de filmes, por conta do festival, como na produção. O edital de 2008, anunciado ontem, contemplou dez filmes com R$ 5,9 milhões. Até o alemão Hank Levine, co-produtor de “Cidade de Deus”, adotou a expressão.

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